Leituras: Ex 22,20-26, 1Ts 1,5c-10 e Mt 22,34-40.
Amados irmãos e irmãs, Reverendos Padres Paulinho, Zimri e Camilo, Sr. Prefeito Municipal José Auricchio e esposa Sra. Denise. Prezados Irmãos e Irmãs aqui presentes, a liturgia hoje, nos pede uma reflexão sobre o amor a Deus. Este é o primeiro e o maior dos mandamentos. E o amor ao próximo, que deriva do amor de Deus. Um não existe sem o outro, um manifesta-se através do outro. O verdadeiro encontro com Deus leva à descoberta do próximo e intensifica a relação de amor fraterno.
Hoje celebramos um dia dos “autonomistas”, aqui em São Caetano. De acordo com levantamentos históricos da época, São Caetano antes de 24 de outubro de 1948, não tinha uma única praça, hospital, água e esgoto e nem ruas calçadas. Era realmente um pedaço de terra esquecido entre a capital de São Paulo e Santo André. O movimento autonomista de 1948 foi o marco histórico que culminou com a liberdade do então segundo subdistrito de São Caetano do município de Santo André. Foi a partir deste marco que São Caetano do Sul ganhou força para chegar hoje entre àqueles municípios considerados de primeiro mundo. Uma cidade assim bem sucedida, não pode esquecer de Deus. E não se esquecer Dele é viver o seu mandamento maior que hoje Jesus nos ensina no Evangelho.
Quando Jesus revela a Deus como Pai nosso, está revelando nossa vocação de filhos e filhas do mesmo Pai e Criador, a quem devemos amar. Se somos filhos, somos irmãos e todos somos chamados igualmente a viver uma vida digna de filhos e filhas de Deus. Daí que não se pode admitir sentimentos de ódio, rancor, desprezo, discriminação, maldades entre nós, porque Deus nos amou por primeiro, nos deu a vida e nos chamou à feliz comunhão de amor com ele e com o próximo.
Certamente o amor de Deus pode e deve expressar-se de modo particular na oração individual, na contemplação e na Liturgia, mas, deve manifestar-se também na ação concreta caritativa e misericordiosa para com nossos irmãos sofredores que vivem nas periferias existenciais (Papa Francisco in EG). Quem não se relaciona bem com os irmãos, não se relaciona bem com Deus, esta é a verdade (cf. 1Jo 4,20).
A primeira leitura, Êxodo 22,20-26 nos fala que mesmo no Antigo Testamento, o amor ao próximo é visto em relação a Deus, como respeito a sua lei e como reflexo do seu amor para com a humanidade. Nos Evangelhos, este mandamento é iluminado e aperfeiçoado por Jesus.
Podemos entender, por detrás das palavras desta perícope, a visão de um povo recém saído da escravidão do Egito, sonhando com uma sociedade solidária e onde o poder é para servir e não para oprimir. Jesus nos diz que a vida e a dignidade estão acima da Lei humana, pois a verdadeira lei dada por Deus é a “solidariedade”. Com essa afirmação nos questionamos sobre quais são nossos valores quando a questão é o dinheiro, o nosso dinheiro e, se ele serve também para ajudar na sobrevivência, na dignidade do pobre. Nesse ponto deveremos refletir sobre nossos deveres para com Deus quando se trata de nosso relacionamento com os empregados, dependentes (pessoas que dependem de nossa compreensão e abnegação para terem uma vida com dignidade).
Tocamos em uma questão social, claro! Mas foi o Senhor, nosso Pai, que nos criou a todos como irmãos. Existirem pessoas que vivem no luxo e outras, na miséria, é uma aberração diante de Deus. É um contra testemunho diante dos demais. Não existe meritocracia! Se tive várias oportunidades, se fiquei rico, foi o Senhor que confiou em meu coração e inteligência, o Senhor me deu para que eu partilhasse com os menos favorecidos. Esta é a lógica do amor cristão. Antes do direito da propriedade privada que é um direito secundário, existe o direito primário de todos usufruírem os bens que Deus deu para todos (cf. Papa Francisco in Fratelli Tutti n. 120).
O Evangelho, extraído de Mateus 22,34-40, apresenta o Mandamento do Amor como chave para o louvor a Deus. Quando um doutor da lei interroga Jesus sobre o maior mandamento, pretende pô-lo em dificuldades. Pede solução a uma questão muito discutida entre os rabinos. Eram eles que determinavam para o povo, qual era a exigência ética mais importante.
Os estudiosos da Bíblia, no tempo de Jesus, encontraram 613 mandamentos. E aí, qual o mais importante? Se todos estão na Bíblia, não seriam todos? Sabemos por relatos nos Evangelhos, que para muitos doutores judeus, “observar o Sábado” era o mais importante, daí criticarem Jesus por curar em dia de sábado. A caridade, para eles, não era o mandamento mais importante.
O Senhor responde citando, um após outro, os preceitos do amor a Deus e do amor ao próximo. O primeiro é tomado do Deuteronômio capítulo 6: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua mente!”. A palavra “coração” significa toda a interioridade do homem, e “mente”, o aspecto racional dessa interioridade, que participam da adesão a Deus pela vontade. A “alma” é a força vital e com toda ela o homem deve orientar-se para Deus, pois o amor não é mero sentimento, mas direção de vida.
Para Jesus esses dois mandamentos de AMAR se tornam um só: Jesus une o amor a Deus ao amor ao próximo, como duas faces da mesma moeda. É o que exprime São João Evangelista na sua primeira Carta: “Se alguém diz que ama a Deus, mas odeia seu irmão, é um mentiroso; pois, quem não ama a seu irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê? E recebemos de Deus este mandamento: ‘Quem ama a Deus ame também a seu irmão'” (1Jo 4,20-21).
Não significa deixar para depois o dever de amar a Deus, mas amá-lo desde agora no único modo com o qual ele se nos faz presente concretamente: no próximo. Também o irmão é um sinal do amor de Deus que nos pede amor: “O que fizestes a estes meus irmãos menores, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Ele, portanto, estava presente no faminto, no que estava nu, no encarcerado. É este o Deus próximo que encontramos a cada passo da nossa vida, ao qual podemos estender a mão e ajudá-lo. A Eucaristia que agora celebramos nos consagra precisamente para este difícil amor, porque onde reina a caridade, o amor ao próximo, aí Deus está.
Demos graças ao Pai por todas as manifestações do verdadeiro amor a Deus e ao próximo, vivido pelos membros das nossas Paróquias e Comunidades, sobretudo em favor dos mais necessitados, neste tempo de pandemia da Covid-19.
Finalmente, a carta de Paulo aos Tessalonicenses 1,5-10, nos fala da importância do testemunho, mesmo em meio a tribulações. Trazer a público aquilo que está guardado no coração: se teu coração ama a Deus, coloque este amor em prática amando seu irmão. E será desse modo a propaganda da fé, não só através dos meios de comunicação, mas através da ação do Espírito, do testemunho na vida das Comunidades.
Concluindo: as leituras de hoje nos propõe darmos testemunhos de nossa fé, primeiro através da solidariedade, da vivência pacífica em meio a tribulações. Nossa fé se manifesta no amor a Deus vivido em relação ao próximo, que se estende para além das fronteiras, e está na base daquilo que chamamos ‘amizade social’ em cada cidade em cada país” (Papa Francisco in Fratelli Tutti n. 99).
O cristão deverá trilhar este caminho de amor fraterno universal. É impossível separar o amor ao próximo do amor a Deus. O certo é que “o individualismo não nos torna mais livres, mais iguais, mais irmãos” (Papa Francisco in Fratelli Tutti n. 105). Enfim, no entardecer de nossa vida, seremos julgados pelo amor (S. João da Cruz). É bom não se esquecer disto. AMÉM!