Leituras: Is 5,1-7; Filip 4,6-9; Mt 21,33-4
A liturgia de hoje utiliza a imagem da “vinha de Deus” para falar do Povo que aceita o desafio do amor de Deus, colocando-se ao serviço de Deus. Deus exige do seu povo, frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e misericórdia. Quem é este Povo de Deus Hoje? Somos nós os batizados, a Igreja.
O profeta Isaías usa uma parábola para expressar o infinito amor de Deus por seu povo. Nesta “parábola”, Deus é o “vinhateiro” e Israel é a “vinha”. Os servos são os profetas que Deus enviou e por fim seu filho todos foram rejeitados e o filho foi morto. Como é que Israel respondeu aos esforços de Deus? Que frutos produziu a “vinha” de Deus? O profeta responde: Deus esperava que Israel vivesse no direito e na justiça, cumprindo fielmente as exigências da Aliança; esperava uma vida de coerência com os mandamentos. Na realidade, o Povo atua em sentido exatamente contrário àquilo que Deus esperava: praticam maldade.
Deus pretende criar no coração do seu Povo uma dinâmica que leve ao amor ao irmão. Deus ama-nos, para que nos deixemos transformar pelo amor e amemos os outros. O encontro com o amor de Deus tem de causar uma efetiva transformação do nosso coração, e tem de nos levar ao amor afetivo e efetivo ao irmão. Deus nos ama, é paciente conosco e espera, mas temos de fazer nossa parte, corresponder a seu amor.
No Evangelho, Jesus retoma a imagem da “vinha“. Critica os líderes judaicos que se apropriaram em benefício próprio da “vinha de Deus”. Eles, porém, se recusaram sempre a oferecer a Deus os frutos que Lhe eram devidos. Jesus anuncia que a “vinha” vai ser retirada deles e vai ser confiada a trabalhadores que produzam e que entreguem a Deus os frutos que Ele espera.
O evangelista Mateus exorta a sua comunidade a produzir frutos verdadeiros que agradem ao “senhor” da “vinha”. Frutos de justiça e amor. Ele escreve no final do séc. I (década de 80 d.C.); passou já o entusiasmo inicial e os cristãos da comunidade de se acomodam num cristianismo fácil, sem exigência, descomprometido. Mateus exorta os irmãos/irmãs da comunidade a que despertem, que saiam do comodismo, de um cristianismo fácil. Que, deem frutos próprios do Reino, que vivam com radicalidade as propostas de Jesus.
O problema fundamental posto pelo Evangelho, é o da coerência com que vivemos o nosso compromisso com Deus e com o Reino. Deus não obriga ninguém a aceitar a sua proposta de salvação e envolver-se com o Evangelho do Reino; mas uma vez que aceitamos trabalhar na sua “vinha”, temos de produzir frutos de amor, de serviço, de doação, de justiça, de paz, de tolerância, de partilha…
O meu compromisso com o Reino é sincero? Quais são os frutos que eu produzo? Quando se trata de fazer opções, ganha o meu comodismo e instalação, ou a minha vontade de servir a construção do Reino? Como é que, no dia a dia, acolho na minha vida os valores de Jesus? As propostas de Jesus são, para nós, valores consistentes, que procuramos integrar na nossa existência? O Evangelho serve de alicerce à construção da nossa vida, ou são valores dos quais nos descartamos com facilidade, sob pressão de interesses egoístas e comodistas?
Na segunda leitura, Paulo exorta os cristãos da cidade grega de Filipos, comunidade fundada por ele, – e todos os que fazem parte da “vinha de Deus” – a viverem na alegria e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno. São esses os frutos que Deus espera da sua “vinha”, que somos nós hoje, a sua Igreja.
As palavras de Paulo aos filipenses definem alguns dos elementos concretos que devem marcar a caminhada do Povo de Deus. Paulo convida os cristãos a não viverem inquietos e preocupados. Os cristãos estão “enxertados” em Cristo e têm a garantia de com Ele ressuscitar para a vida definitiva. Eles sabem que as dificuldades, os dramas, as perseguições, as incompreensões são apenas acidentes de percurso. As dificuldades da vida não deve separar o cristão do amor de Cristo, que é vida verdadeira. Os cristãos não são pessoas fracassadas, alienadas, mas pessoas com um objetivo final bem definido: a vida plena.
Um cristão (ã) tem de ser, antes de mais, uma pessoa íntegra, verdadeira, leal, honesta, responsável, coerente. É este testemunho que colabora com o reinado de Deus. Ouvimos, algumas vezes, dizer que “alguns que vão à igreja são piores do que os outros que não vão”… Em parte, a expressão serve, sobretudo, a muitos dos chamados “cristãos não praticantes” para justificar o fato de eles não irem à igreja; mas não traduzirá, algumas vezes, o mau testemunho dado por alguns cristãos praticantes? Quem vai as recepções das nossas igrejas, encontra sempre simpatia, compreensão, amabilidade, verdade, coerência? Será que vencemos o mal fazendo o bem?
O caminho de Cristo é um caminho de dom e de entrega da vida; mas não é um caminho de tristeza e de frustração. Porquê, então, a tristeza, a inquietação, o desânimo com que, tantas vezes, enfrentamos as dificuldades da nossa caminhada? Porque é que, tantas vezes, saímos das nossas celebrações eucarísticas, cabisbaixos, inquietos, de semblantes tristonhos? Os irmãos que nos rodeiam e que nos olham nos olhos recebem de nós um testemunho de paz, de serenidade, de amor-serviço? Reflitamos um pouco…. (silêncio)