Leituras: Eclo 27,33- 28,9; Rm 14,7-9; Mt 18,21-35
Prezados irmãos e irmãs, agradeçamos a Deus porque ouvindo sua palavra estamos sendo abençoados. Saúdo cada um de vocês, o Pe. Joel, concelebrante e o Pe. Camilo.
O Evangelho deste domingo nos ordena amar o próximo demonstrando este amor através do perdão. Para muitas pessoas, hoje, o perdão é algo estranho e não entra nos projetos de suas vidas. Estamos em meio a uma cultura que fomenta a competição, o armamento da população, a vingança e até o ódio. E ainda muitos cristãos acham que o amor e o perdão são incompatíveis com o empenho social em favor da justiça e do pobre. Alguns filósofos, acham que perdoar é para os fracos (cf. Nietsche in Genealogia da moral).
No Evangelho que ouvimos, S. Pedro pergunta quantas vezes devemos perdoar. São Pedro achando que estava sintonizado com Jesus, até pensa cometer um exagero ao se arriscar a dizer: até sete vezes? O perdão como Jesus ensina estava ausente na lei judaica que dispunha: olho por olho, dente por dente”… Jesus responde contando esta parábola. Certo homem foi perdoado pelo patrão do qual era servo, perdoado de uma dívida imensa, mas quando seu colega lhe pediu perdão por uma pequena dívida, ele não perdoou e até o ameaçou de prisão. Ao saber o patrão ficou furioso e revogou o perdão da dívida, castigando o servo mau.
O patrão mostrou compaixão, agiu com misericórdia diante da situação do devedor. A compaixão é própria de Deus, por isto este patrão da parábola simboliza Deus. Nós somos exortados a imitar a Deus em nosso dia a dia. Usando de compaixão e empreendendo o caminho revolucionário do perdão.
Jesus nos dá uma boa notícia: Deus perdoa nossas dívidas para com Ele (tudo o que nos deu a começar do dom da vida), perdoa também quando o ofendemos. O papa Francisco ensina: “Deus nunca se cansa de perdoar, mas somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar setenta vezes sete dá-nos o exemplo: ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos em seus ombros”(EG 3).
Porém Ele exige que façamos o mesmo com nossos irmãos. Jesus nos ensina, no Pai Nosso. que a disposição de Deus de nos perdoar depende de nossa disposição de perdoar os outros (cf.Mt 6, 9-13; Lc 11,2-4). Neste tempo difícil de pandemia e distanciamento social, devemos nos perguntar como temos vivido nossos relacionamentos. Aumentaram o número de separações entre casais. Muitos atritos e conflitos passaram a existir, além do normal. Apesar da solidariedade e partilha bonitas que vivenciamos. Mas e o perdão?
A lógica do perdão, nos choca profundamente, mas é a demonstração mais pura da misericórdia que está no coração do Evangelho. Ela é o que deveria caracterizar com mais propriedade o ser cristão. O que é ser cristão? É aprender a perdoar de todo coração. (contar episódio do mártir que não perdoava ao ser levado para o martírio…). Somos chamados a perdoar os outros não porque somos melhores, mas porque fomos nós também perdoados. Devemos sempre procurar perdoar, nem que seja a “prestação”, perdoar o que formos capazes e Deus nos dará a graça de cumprir o que falta.
Jesus nos lembra que não há cristianismo sem fraternidade e não existe fraternidade sem perdão. Não poderemos amar os outros se não nos sentirmos amados e o momento mais alto da manifestação do amor é quando somos perdoados e perdoamos. Jesus morreu na cruz para o perdão de nossos pecados. O cristão sempre busca colocar no mundo mais amor, perdão e reconciliação. O perdão é algo necessário para o restabelecimento da unidade comunitária que foi rompida pelo pecado. Construir a comunidade é tarefa de todos e nós a construímos com os tijolos do perdão.
Pode até existir perdão sem santidade cristã, mas não existe santo que não soube perdoar, que não deu exemplo de perdoar o próximo a exemplo de Jesus que morreu perdoando seus assassinos (Lc 23,34). A Porta do edifício da santidade está fechada para os que não sabem perdoar. Precisamos construir comunidades de perdoados e perdoadores. Que saibamos viver o perdão pois é fonte de libertação! Amém
Dom Pedro Carlos Cipollini