Leituras:1Rs 19,9-13; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33
Irmãos e Irmãs, hoje, a Liturgia nos leva a contemplar e celebrar o mistério pascal na experiência de Deus que vem ao encontro do homem, especialmente em situações de necessidade, quando ele o invoca com fé. Estamos em um momento dramático, trágico, em que a Covid-19 já ceifou 100 mil vidas. Esta santa missa é oferecida também em sufrágio destes que se foram. Pedimos o conforto para os que ficaram. Rezemos especialmente pelos pais neste seu dia, pelos falecidos e pelos vivos.
O Deus dos profetas, o Deus Pai de Jesus, é aquele que toma a defesa dos pobres, dos fracos. Ele decepciona os orgulhosos, os poderosos que querem se servir de seu poder, para maltratar e oprimir os povos. Terão que prestar contas no tribunal de Deus que é misericórdia e também justiça. Deus não se apresenta nos fenômenos grandiosos e violentos: vento, terremoto, fogo; mas se revela no murmúrio de uma leve brisa, como que significando a espiritualidade e a intimidade das manifestações de Deus aos homens: Deus fala no silêncio e no íntimo do nosso coração.
A primeira leitura apresenta o profeta Elias. Cansado das lutas e perseguições. Ele está fugindo de Jezabel que quer matá-lo. Com a força de um alimento misterioso – pão assado na brasa e água – ordenado por um anjo, chega ao Horeb, o monte de Deus. É o lugar onde Moisés se encontrou com Deus. A primeira leitura nos mostra como Deus intervém em auxílio do homem quando, oprimido pelas dificuldades da vida, perseguições, em Deus se refugia.
O Evangelho conta que depois da multiplicação dos pães, Jesus manda os discípulos entrarem na barca e seguir à sua frente, enquanto despedia as multidões, depois ele sobe ao monte para orar a sós. Jesus ora pelos discípulos para não cederem a tentação do messianismo triunfal, com um Messias de poder e glória mundana. Jesus ora para que os discípulos superem uma fé baseada em milagres.
A barca, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário: a barca dos discípulos é figura da comunidade, da Igreja, alimentada por Cristo, sobretudo na Eucaristia, ela deve enfrentar a travessia perigosa da vida, da história. O vento contrário representa a resistência dos discípulos em afastar-se do lugar onde tinha ocorrido a multiplicação dos pães, esperança de triunfo de que Jesus se torne líder da multidão. O mar agitado é figura da sociedade contrária ao projeto de Jesus. Os discípulos não haviam compreendido o que Jesus fez com os pães e os peixes que sobraram. Esta seria de fato a missão dos discípulos: não reservar nada para si; doar tudo e a própria vida como Jesus fez. A Igreja enfrenta dificuldades enquanto caminha neste mundo rumo à pátria definitiva, mas na obediência a Jesus, vai vencendo. O que Jesus nos pede é uma fé firme e verdadeira.
De madrugada avistam Jesus que vem a eles “andando sobre o mar”, pensam que é um fantasma. Não reconhecem Jesus, o Filho de Deus, o Deus conosco. Jesus logo os tranquiliza: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”. Pedro o chefe da embarcação, diz: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. Pedro crê no poder de Jesus, quer participar da condição divina de Jesus. Jesus diz: vem!
Mas, quando Pedro sente o vento, fica com medo e começa a afundar, ou seja, esperava ser como Jesus, mas sem obstáculos, de maneira milagrosa; esqueceu que o homem se faz filho de Deus no meio da oposição e perseguição do mundo: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus e felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo disserem todo mal contra vós por causa de mim.”, diz Jesus nas bem aventuranças. Enquanto confia em Jesus, Pedro caminha sobre a água. Vem o vento e sua confiança se abala. Confiando em si, ele afunda. É preciso, portanto, reconhecer Jesus e confiar nele: “Jesus eu confio em Vós!”. Então os ventos se acalmam. Com a fé vencemos o mal mas a fé exige perseverança. A fé é confiar é abandono nas mãos de Deus. Quando vamos desistir de guiar a barca de nossa vida e deixar que Deus a guie?
Jesus trata Pedro e os discípulos com amor e familiaridade: encoraja, repreende-os, acalma o vento, estende a mão a Pedro, segura-o e lhe diz: “Homem fraco na fé, por que duvidastes?”. Pela fraqueza da fé, apavora-se o homem diante dos perigos, desanima nas dificuldades e, às vezes, se vê prestes a afundar. Mas quando tem fé viva, quando não duvida do poder de Jesus, de sua contínua presença na Igreja, nenhum fiel jamais afundará. Nem a barca da Igreja, porque a mão do Senhor se estenderá invisível para salvá-la.
A Comunidade cristã vive uma existência atormentada pela hostilidade das forças adversas, que se manifestam nas perseguições e dificuldades externas e internas. Jesus oferece, pois, à sua Igreja, a vitória sobre as forças do mal e a segurança nas provações, mas pede como condição essencial uma confiança sem hesitação. Não devemos nos perturbar no fogo da provação, como se isto fosse algo extraordinário. A Igreja caminha entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus.
No dia 06 de agosto passado celebramos o dia mundial de oração pelos cristãos perseguidos. Nestes dois mil anos de cristianismo os cristãos passaram por duras provas. Os cristãos continuam sendo o grupo mais perseguido e morto em todo o mundo. Mas, mesmo assim sabemos que só a fé em Jesus Salvador, é vitoriosa, a fé do cristão que caminha ao encontro do Senhor ressuscitado, no meio da tempestade.
Em meio às dúvidas, das intempéries da vida, somos chamados a escutar, como fez Elias, escutar no nosso coração o silencioso murmúrio de DEUS que nos fala pela boca de seu Filho Jesus: “Coragem, sou eu, não tenham medo”. Somos convidados a recuperar em meio à tormenta do dia a dia, a dimensão contemplativa da vida: o silêncio, a oração, a escuta do grande e quieto oceano da presença de Deus em nós e no meio de nós. AMÉM