Is 55,10-11; Rom 8,18-23; Ev. Mt. 13,1-23
Irmãos e Irmãs, neste dia em que celebramos o Dia do Senhor, a liturgia nos leva a refletir sobre a Palavra de Deus, que é sempre eficaz, que revela os mistérios do Reino que Jesus anuncia por meio de parábolas. Jesus convida a entrar no Reino através das parábolas, elas são traço típico do seu ensinamento.
As parábolas são como que espelhos para o homem: este acolhe a palavra como um solo duro ou como uma terra boa? Que faz ele dos talentos recebidos? A pessoa de Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no núcleo das parábolas. É preciso entrar no Reino, isto é, tornar-se discípulos de Cristo para “conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11). O que é tornar-se discípulo? É comprometer-se, escolher Jesus. Para os que ficam “de fora”, tudo permanece sem sentido. As parábolas convidam às alegrias do Reino, mas exigem uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso decisão, palavras não bastam, são precisos atos.
A Palavra de Deus, como a semente, é sempre eficaz em si mesma. Ela realiza o que significa. É como diz a primeira leitura da liturgia de hoje: “Assim a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for da minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”. A Palavra de Deus tem uma força excepcional, é capaz de superar qualquer obstáculo e executar a vontade de Deus. Ela não volta a Deus sem ter cumprido sua missão. O profeta Isaías usa uma delicada comparação da palavra com a chuva restauradora que “vem para irrigar e fecundar a terra e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação”, mas depois volta de onde veio, após transformar a terra.
Diz o Evangelho que esta eficácia da Palavra de Deus no coração do fiel, depende de suas disposições. Nem todos a aceitam porque não deixam a Palavra de Deus penetrar fundo em suas vidas. As provações, as tribulações, as riquezas, os prazeres da vida impedem que produza frutos. A Palavra de Deus revela os mistérios do Reino. Qual é este mistério? É a realidade profunda de participação de vida no amor trinitário comunicada às pessoas por Deus. O plano de Deus é fazer com que as pessoas participem de sua vida, do seu amor e da sua felicidade. Portanto, mistério aqui não é algo de incompreensível à razão humana, mas algo revelado e comunicado à humanidade. É Deus que se revela e se comunica às pessoas através de Jesus Cristo. Enquanto caminhamos neste mundo, tudo isso ainda está oculto sob o véu da fé, dos ritos sacramentais e da expressão do amor, reflexo do próprio Deus que é amor.
As parábolas são uma linguagem muito apropriada para fazer compreender estas realidades profundas reveladas e comunicadas por Deus. É a linguagem por comparações, aliás, a palavra parábola vem do grego e significa “comparação”.
Ao mesmo tempo, porém, a parábola em virtude de sua própria natureza, tem algo de obscuro, de enigmático que estimula o espírito dos ouvintes, mas exige, geralmente, alguma explicação. Por isso no Evangelho, os discípulos se aproximam de Jesus e dizem: “Por que falas ao povo em parábolas ?”. Diante da incredulidade do povo, entendiam o núcleo das parábolas, mas fechavam-se moralmente ao seu valor, tornando assim impossível um anúncio claro do Reino. Jesus significam que Ele só podia apresentar a verdade sobrenatural desta forma misteriosa, que é o que o povo podia suportar. Considerando também as concepções rudes e materialistas que o povo judeu tinha do Reino de Deus, o que tornava impossível uma pregação mais clara.
Se na parábola a ênfase, o que atrai mais a atenção é o drama da palavra (semente) que é lançada no mundo, na explicação dada por Jesus aos discípulos, o que importa não é tanto a semente, mas o modo como é acolhida, a disponibilidade interior do coração, preparado como terra boa. Por que muitos recebem a Palavra e a abandonam? Outros começam a praticá-la mas depois de certo tempo desanimam? Por que não perseveram?
Esses problemas apresentados na comunidade de S. Mateus, são os nossos problemas na Igreja e em nossas comunidades hoje, e nos questionam: Por que a mensagem do Reino de Deus anunciada pela Igreja, na fidelidade à Palavra de Deus, não é aceita pelas pessoas, e muitas vezes nem pelos próprios cristãos? E por que acolhem essa Palavra com ânimo e alegria inicial, mas, depois não tem profundidade e logo desistem, abandonam ou pior, distorcem a palavra para torná-la mais leve, ou como muitos dizem mais agradável aos olhos e aos ouvidos. Alguns alegam que Jesus é muito duro, ácido, exigente em suas palavras e que isto não faz sentido no mundo de hoje numa sociedade hedonista, individualista que só procura o seu bem-estar e aquilo que lhe dá prazer. Tudo o que não está dentro do seu padrão de vida consumista não interessa. Existem muitos que não aceitam cuidar do espírito assim como cuidam do corpo.
Entretanto diz a parábola, a mesma semente produz, num terreno, frutos abundantes; e em outros, nada produz. É o mistério da liberdade humana diante do dom de Deus. O anúncio é feito a todos. A misericórdia do Senhor é grande.
Por isso devemos aprender a meditar regularmente, senão ficamos no nível dos três primeiros terrenos da parábola do semeador, o nível daqueles que não quiseram compromisso: 1º) Cair a beira do caminho: ouve a palavra, porém não está atento, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. 2º) Cair em terreno pedregoso onde não tem muita terra: é aquele que ouve a palavra, a recebe com alegria; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento; quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo. 3º) Cair no meio dos espinhos: é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto.
Ouçamos, portanto, a Palavra do Senhor com o coração disponível, pronto a se comprometer. Sabendo que, como diz S. Paulo, o sofrimento do tempo presente por causa da Palavra de Deus, não é nada comparado com a glória de quem a aceita e pratica. Deus não exige a mesma quantidade de frutos de todos, mas que cada um produza conforme sua capacidade, na força da graça do Espírito Santo. AMÉM