Dom Pedro Carlos Cipollini – 30 de novembro de 2019
Igreja Matriz de Santo André – Santo André
Saudações iniciais (Rm 10,9-18; Mt 4,18 – 22)
Nosso Santo padroeiro: Santo André Apóstolo: missionário do Reino, fundador de comunidades de fé e vida.
Santo André (do grego Ανδρέiα =valente,corajoso), conhecido na tradição ortodoxa como Protocletos (o primeiro a ser chamado), é um dos doze apóstolos.
André era irmão de Simão (posteriormente chamado de Pedro por Jesus). Ambos eram filhos do pescador chamado Jonas. Nasceram na cidade de Betsaida, às margens do Lago de Genesaré, conhecido como Mar da Galiléia. André e Pedro eram pescadores, sócios de João e Tiago (também discípulos de Jesus) numa comunidade de pesca. Mudaram-se para Cafarnaum, cidade maior e mais promissora que Betsaida.
Antes de serem discípulos de Jesus, André e João, irmão de Tiago, foram discípulos de João Batista. Foi ele, aliás, quem apresentou Jesus a esses dois, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo”. Os dois foram atrás de Jesus. O encontro com o Mestre foi maravilhoso porque, João, depois de mais de 60 anos, quando escreveu seu Evangelho, lembrou-se até da hora em que ele e André encontraram o Jesus: “Eram quatro horas da tarde”. (Jo 1, 35-40)
André, juntamente com João, foram os primeiros a se tornarem discípulos de Jesus. O fato de ter sido discípulo de João Batista mostra que Santo André era um homem ligado à religião e estava buscando algo mais. Depois de encontrar Jesus ele faz questão de levar seu irmão Pedro até o Mestre afirmando “Encontramos o Messias”(Jo 1,41). Ele não guardou para si a graça de ter encontrado o Senhor. Por isso, foi o primeiro discípulo a apresentar futuros discípulos a Jesus.
André era indicado pelos próprios discípulos como o “segundo na hierarquia”, estando abaixo somente de Pedro, o líder escolhido por Jesus (cf. Mt 10,2; Lc 6,14). Nas listas dos Apóstolos citadas nos Evangelhos, André figura entre os quatro primeiros. A Tradição diz que Santo André era mais velho que Pedro. Após seu encontro com Jesus deixou tudo para segui-lo.
Santo André é mencionado doze vezes no Novo testamento. É citado no milagre da multiplicação dos pães. É ele quem apresenta o menino que tem cinco pães e dois peixes. (Jo 6, 8-14). Quando gregos pedem para ver Jesus, Filipe vai falar com André e André fala com Jesus. O fato evidencia a autoridade de André. Santo André participou de toda a vida pública de Jesus, viu os milagres que o Mestre realizou, ouviu as suas pregações e ensinamentos. Experimentou a própria fraqueza fugindo quando Jesus foi preso, mas experimentou também a alegria do perdão vindo de Jesus ressuscitado e a força do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Tudo isso moldou para sempre sua personalidade e ele se tornou um grande Apóstolo da acolhida e missão.
Logo após a Vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes, Santo André ajudou a fortalecer a Igreja nascente na Palestina. Depois, partiu para anunciar o Evangelho em vários lugares, fixando-se na cidade de Patras, na Grécia. Lá, formou uma comunidade cristã forte, modelo para outras comunidades. Ali surgiu uma igreja viva, rica em discípulos missionários. Vários milagres aconteceram pela oração de Santo André. Eusébio de Cesareia, citando Orígenes, conta que André pregou na Ásia Menor, ao longo do mar Negro, chegando até o rio Volga. Daí que se tenha tornado padroeiro da Romênia e da Rússia. De acordo com a tradição, teria fundado a sede de Bizâncio, no ano 38, e ordenado seu primeiro bispo. Esta diocese iria posteriormente se transformar no Patriarcado de Constantinopla, do qual André é reconhecido como santo padroeiro.
Por causa do crescimento da comunidade cristã na região da Acaia onde estava Patras, o governador local chamado Egéas, subordinado ao imperador Nero, prendeu Santo André porque o santo afirmava que Jesus era um juiz mais importante e estava cima dele (Egéas). O governador exigiu que Santo André adorasse os deuses pagão da região. O santo se negou e ainda afirmou que aqueles deuses eram ídolos do mal. Por isso, o governador condenou-o à crucificação. Santo André aceitou a sentença com alegria, pois sempre pregou a grandeza da cruz de Cristo. Antes de morrer, doou seus bens e suas roupas a seus carrascos e resistiu dois dias de grande sofrimento pregado numa cruz em forma de “X” na qual morreu. Era o dia 30 de novembro de do ano 60.
No ano 357, o imperador Constantino, convertido ao cristianismo, trasladou os restos mortais de santo André de Patras para Constantinopla. Depois, essas relíquias foram trasladadas pelos cruzados, para a cidade de Amalfi na Itália e em seguida para Roma. O Papa São Paulo VI devolveu as relíquias à cidade de Patras na Grécia em 1964, onde se conservam.
- Santo da Palavra e da Eucaristia que sustentam a vida comunitária e a missão
O Evangelho aqui proclamado nos fala que Jesus multiplicou os pães. Jesus tem misericórdia e compaixão do povo pobre e faminto. Jesus quer que comprem pães, mas não tinha dinheiro nem havia lugar que vendesse: era um deserto. O apóstolo André irmão de Simão Pedro, discretamente apresenta a Jesus um jovem que tem cinco pães de cevada (o pão mais barato que existia) e dois peixes.
André é esta admirável figura que possibilita a Jesus fazer o milagre. Que nossa Igreja de Santo André, simbolizada em seu brasão por estes dois peixes e cinco pães, Igreja que traz o nome deste grande apóstolo, seja também a facilitadora, para que Jesus se faça presente entre nós, saciando a fome de todos. Fome de Deus e de sentido da vida e fome material do pão também. Deus quer nossa colaboração na implantação de seu Reino: devemos ajudar a levar os pães e os peixes como fez o apóstolo André. Jesus manda organizar o povo, abençoa e o pão é distribuído. Jesus pede aos apóstolos que faça o povo sentar-se (é a atitude dos discípulos), depois eles distribuem o pão abençoado (é a vida comunitária cujo centro é a Eucaristia).
Todos comem e sobra. Quando trazemos só para nós, sempre falta, quando se coloca em comum, há partilha: sempre sobra. Neste episódio está prefigurada a Eucaristia. A Eucaristia é fonte de vida solidária, ela nos garante que vencemos o mal fazendo o bem, promovendo a “cultura da inclusão”, para que não haja necessitados entre nós, como nas primeiras comunidades.
Nestes acontecimentos, facilitados por Santo André, está o sinal de que a Igreja é alimentada pela Eucaristia e os Sacramentos, organizada em comunidades. “Aprouve a Deus salvar-nos em comunhão” (Vat. II – LG 9), não sozinhos, individualmente.
Jesus nos indica o primado da Comunhão e Unidade geradoras da Comunidade, que celebra a fé através dos sacramentos. Não existe Igreja sem comunidade. Não existe cristão sem Igreja. A Igreja é nosso “eu” plural! Comunhão e comunidade são próprios dos cristãos, fazem a diferença, em meio ao individualismo reinante em uma cultura do consumismo e do relativismo. Sabemos que a força para evangelizar nos vem da Eucaristia e da vida comunitária. A comunhão é fundamento da missão e da pastoral de conjunto. Santo André é um santo “eclesial”, ensina-nos a amar e sentir com a Igreja! Igreja em saída missionária, Igreja da acolhida. Em nosso padroeiro podemos encontrar todas estas inspirações maravilhosas para nossa dinâmica pastoral.
- Santo André, um santo da misericórdia em ação
A Igreja nasce do amor de Deus pela humanidade. Do lado traspassado, do coração de Cristo na cruz jorra sangue e água. A Igreja por isso vive do amor. Amor a Deus primeiro na ordem da fé, mas amor ao próximo primeiro na ordem da prática da fé. Isto porque não chegamos a Deus sem passar pelo irmão. Sem passar por Jesus crucificado e pelos crucificados da história. O papa Bento escreveu na encíclica Deus caritas est: “A natureza da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra, celebração dos sacramentos, serviço da caridade.”(n. 25).
A exemplo de Santo André que levado pela fé na Palavra de Jesus (anúncio) apresenta o jovem com os pães e os peixes (liturgia) e organiza o povo para comer (caridade), nossa Igreja quer ser a Igreja dos pobres sinalizando isto com a instalação hoje do Vicariato da Caridade Social.
Nosso Primeiro Sínodo Diocesano colocou como meta este Vicariato da Caridade:
“Por meio de uma pastoral estruturada, orgânica e integral, temos a vocação e missão de promover, cuidar e defender a vida em todas as suas expressões” (Constituição Sinodal n. 129).
O objetivo deste Vicariato é reunir as diversas expressões do serviço da caridade na Diocese, numa instância de comunhão e articulação com rosto eclesial para uma contínua ação evangélica a serviço da vida plena para todos à luz da Doutrina Social da Igreja. Queremos com isso atender o apelo do Papa Francisco que convida nossa Igreja a evitar o “mundanismo”, e dirigir-se às periferias existenciais deste mundo”(cf. EG 20). Assim, uma das prioridades eleitas pelo Sínodo e que compõe seu 8º Plano de Pastoral diz: “Ação missionária permanente para fortalecer a presença da Igreja junto aos pobres nas periferias, aos cristãos afastados, aos doentes, e aos grupos necessitados de motivação e acolhida”(Constituição Sinodal n. 161 e Itinerário n. 8 Ação Solidária – Oitavo Plano de Pastoral).
“Se vês a caridade vês a Trindade”(Santo Agostinho in De Trinitate, VIII, 8, 12: CCL 50,287). Nossa Diocese deseja mostrar a realidade urbana e conflitiva na qual vivemos, o rosto de Deus misericordioso, sendo Igreja da Acolhida, da saída missionária e da Caridade. Assim este Vicariato será um instrumento eclesial, nascido da fé da Igreja, para mostrar que Deus abita esta cidade.
Vamos abraçar esta causa, vamos participar, levando avante a inspiração primeira que o Espírito Santo traçou para nossa Igreja. Ser uma Igreja acolhedora, com os olhos voltados para o Reino; Orante como Maria a Senhora do Carmo, discípula fiel, uma Igreja missionária da caridade como nosso padroeiro o apóstolo Santo André.
Assim seja.