Câmara Municipal de Santo André – 24 de setembro de 2019
Fala de Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Senhores e Senhoras aqui presentes, eme special os agentes de pastoral de nossa Diocese, minha fraterna saudação a todos, o Presidente da Câmara Vereador Pedrinho Botaro, o Representante do Sr. Prefeito, o Vice Prefeito, Sr. Zacarias, o autor da proposta para esta sessão Vereador Lucas Zacarias,demais componentes desta Casa de Leis. Saúdo os Srs. Padres aqui presentes na pessoa do Pe. Ademir Santos Oliveira, Vigário Geral da Diocese, todas as autoridades civis e militares aqui presentes
Deus seja louvado por tudo! Até aqui Ele nos ajudou!
É motivo de gratidão a Deus, a todo o Povo de Deus e aos homens públicos, a ocasião desta noite. A oportunidade de manifestar na Casa do Povo a beleza dessa história da presença diocesana, da Igreja Católica no Grande ABC e, em especial, no município e cidade de Santo André, sede da Diocese, nestes 65 anos de vida de nossa Diocese. E para fazer memória, penso que poderíamos voltar a uma de nossas principais fontes de inspiração: o Santo que dá nome a este querido município e à Diocese. E que tal usarmos o seu nome para este caminho de reflexão? Os nomes na Sagrada Escritura são sempre sinais das missões a serem assumidas. Assim, o nome “André”, de nosso padroeiro, da cidade e da Diocese, possui a sua raiz grega na palavra “VIRIL”, cujo sentido poderíamos associar a FORTE/CORAJOSO.
O santo Apóstolo André é chamado a exercer, sua FORÇA/CORAGEM em muitos momentos de sua vida. Olhar os passos da vida do Apóstolo André, o caminho que ele fez, ajuda-nos a ver o passado, o presente e os caminhos do futuro de nossa cidade e de nossa Diocese, de um modo melhor. A FORÇA/CORAGEM de André, segundo os relatos dos Evangelhos, é testemunhada particularmente em 5 momentos: Quando QUESTIONA A REALIDADE (Mc 13,3); quando APRESENTA JESUS (Jo 1, 35-42); quando PARTILHA O PÃO (Jo 6,8); quando CUIDA DOS MIGRANTES (Jo 12,20-22); e quando SEGUE O PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO REINO (Mt 4,18-20).
- A Força/coragem (virilidade) do Apóstolo André: questiona a realidade (Mc 13,3)
O Apóstolo é questionador sobre a futura destruição do Templo de Jerusalém. E como nosso inspirador, também a Diocese de Santo André expressou a sua força nesses 65 anos nos muitos questionamentos que fez à sociedade civil e religiosa. Questionou empresários, questionou patrões, questionou políticos, questionou também a seus diocesanos. Os diocesanos questionaram seus pastores, bispos e presbíteros, sobre o modo como conduziam sua vida em favor da missão que receberam no Batismo. A Igreja questiona quando o governo é violento contra aqueles a quem deveria proteger, trabalhadores, idosos, crianças, minorias. Mas existe um questionamento que fez e nunca poderá deixar de fazer: o de questionar a si própria, rever seus passos e refazer caminhos para ser mais fiel àquilo que Deus lhe pede neste momento da história: a vontade de Deus para essas terras.
O Evangelho de João diz: “O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente” (1 Jo 2, 17). Questionando, vemos que não há sentido em confiarmos somente no que já fizemos nesses 65 anos. Questionando podemos afirmar com São Francisco, depois de tanto já ter trabalhado, no final afirmou: “Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos, porque até agora fizemos pouco (cf. Vida, T. Celano Introdução 102)
- A força/coragem do Apóstolo André: apresenta Jesus (Jo 1, 35-42)
André é o responsável por apresentar Jesus a Pedro, com DETERMINAÇÃO/CORAGEM: apresenta Jesus a seu irmão. “Qual a missão da Igreja (da Diocese de Santo André) e, com ela, a de todos os batizados…? Anunciarão ao mundo a pessoa de Jesus e a obra de Jesus. Nós somos anunciadores e precursores de Jesus Cristo. E a Diocese, como Igreja Particular, realiza esta missão no complexo contexto da cidade, sem se abater nas dificuldades deste momento social com sua pluralidade (cf. João Paulo II in NMI 40).
Com todos os seus membros, com todas as suas estruturas, seu clero e seus leigos, seus santos e pecadores, a Igreja Católica deve corajosamente apresentar Jesus nos 825km2 da Diocese que compreende o Grande ABC, para os 2,7 milhões de pessoas da Diocese; da clássica Paranapiacaba ao centro geográfico com suas tantas periferias existenciais. E “quando tivermos de partir para uma periferia extrema, talvez nos assalte o medo; mas não há motivo! Na realidade, Jesus já está lá; Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Jesus está lá naquele irmão. E o Espírito Santo também sempre nos precede; sigamo-Lo! Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho” (Papa Francisco aos bispos de Moçambique, na Visita Ad Limina). A coragem de André nos encoraja!
- A força/coragem do Apóstolo André: Partilha o pão (Jo 6,8)
André traz a Jesus o menino com os cinco pães e dois peixes. Ele hoje também nos ajuda a partilhar o que temos e motivar a outros a fazer o mesmo. Seja a Igreja, seja o poder público, são agentes da partilha, recebem e entregam, não trazem a si o que não é seu, não podemos agir como ouvimos neste final de semana nas leituras bíblicas:
“Ouvi isto, vós, que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra; vós que andais dizendo: ‘Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria? E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?’ Por causa da soberba de Jacó, jurou o Senhor: ‘Nunca mais esquecerei o que eles fizeram’” (Am 8,4-7).
É covarde quem levado pela ganância, age contra a partilha, é forte/corajoso quem favorece a doação de si e de seus bens, materiais e espirituais em favor do outro. “A Igreja em seu profetismo é advogada dos pobres” (cf. DAp 553) Por isso, a nossa tarefa é fazer dos interesses dos pobres, de todas realidades de pobreza, os nossos próprios interesses e colocar a Igreja em movimento de saída de si mesma” (Constituição Sinodal Diocese de Santo André n.11). A Diocese é e deve sempre se aprimorar, em sua história, a ser Igreja que partilha da vida do Povo, para que o povo tenha vida em abundância (cf. Jo 10,10). Por isso, neste momento, insisto na criação de um Vicariato para a Caridade Social, amplo, corajoso, parceiro de todos homens de boa vontade empenhados em favor da vida. Foi um pedido de nosso Sínodo Diocesano!
- A força/coragem do Apóstolo André: cuida dos migrantes (Jo 12,20-22)
Santo André, o apóstolo de Jesus ajudou judeus que viviam na diáspora (migração) grega. A Diocese pode e deve, em suas atividades, promover a ACOLHIDA E MISSÃO (Prioridades do 8º Plano de Pastoral da Diocese) nas terras andreenses e diocesanas, para trazer a paz de Cristo aos homens de boa-vontade e fazer uma “revolução da ternura” (EG 95). E isto a todos os homens e mulheres, não somente aos nossos compatriotas. A paz é para todos! Afinal, “Cristo é nossa Paz!” (Ef 2,14). E paz se faz com os sentimentos de Jesus no coração e com justiça social. Não é possível estarmos consolados com tantos sofredores, migrantes, imigrantes, sem moradia em nossa realidade. É direito deles e dever nosso, prioritariamente, o nosso tempo e nossos esforços. Se a população cresceu quase 7 vezes desde a criação da Diocese, em nós também deve multiplicar a vontade de acolher essas realidades.
Louvamos a Casa do Migrante no Bairro Utinga e o trabalho com os haitianos, inclusive os cursos que a prefeitura fornece, mas pensemos em quantos andreenses foram acolhidos em outros países. É nossa missão cuidar dos estrangeiros que aqui estão e mostrar-lhes que, respeitamos a dignidade que creem ter perdido por fugirem para salvar suas vidas ou sobreviver. Todo o Grande ABC é terra de migrantes e imigrantes, não percamos esta consciência, para não fecharmos o coração.
- A força/coragem do Apóstolo André: segue o projeto do Reino (Mt 4,18-20)
André, ao ser chamado por Jesus, entendeu que nada valia mais na vida do que aquele Reino de justiça e paz que iniciando-se aqui dura por toda eternidade. O outro era mais importante que ele próprio. O beato John Newman, que será canonizado em breve, dizia: “Não nascemos para nós mesmos, mas para a nossa espécie, para o nosso próximo, para o nosso país: é apenas egoísmo, indolência, meticulosidade perversa, covardia, e nenhuma virtude ou elogio, enterrar nosso talento, e devolvê-lo ao Doador Todo-Poderoso, assim como nós o recebemos” (Card. J. Newman). Também a política é um dom em favor do Reino de Deus. O Papa Francisco afirma: “É necessária uma nova presença de católicos na política na América Latina”[1], uma partilha do dom de si em favor do bem comum, que Deus colocou no coração dos homens públicos.
Ninguém deve agir sozinho, agimos para o outro e com o outro. Nem Igreja, nem governo, nem indivíduo a sozinhos. Juntos somos fortes na força que vem de Deus. Necessitamos parceiros para fazer o bem! Por isso é que todos precisam estar juntos: “o governo não pode agir sozinho. A sociedade civil tem que participar. Não se pode desmontar as estruturas de participação social que exercem papel fundamental para nossa nação. Os clamores do povo, suas necessidades e a sensibilidade social vêm exatamente dessa participação e impactam a formulação das políticas públicas”. (Nota da CNBB Sobre Conselhos Paritários (20/09/2019). Cada um com seu dom a serviço do outro é a palavra de ordem para quem quer seguir Cristo.
Louvamos a Deus pelos bons pastores com cheiro de ovelhas que estiveram nestas terras, louvamos a Deus pelos bons homens públicos, também eles de certa forma “pastores”, que passaram por estes 65 anos; louvamos a Deus por cada cidadão e diocesano que foi fiel ao que Deus lhe pedia! Gratidão e compromisso, o Senhor colocou a nós agora nessas terras para usarmos nossa a Força e Coragem em favor do outro.
Santo André nos inspira, Jesus nos precede, e nós: Ah! Nós, como diz o Hino da cidade, temos em “Santo André (nossa) livre terra querida, (nossa) Forja ardente de amor e trabalho, em (s)teu solo semeias a vida, (e trabalhamos para que haja) Em (s)teus lares haja pão e agasalho… Hoje és benção dos céus sobre nós.. (nós que lutamos) aos que lutam por um ideal!” (Hino da Cidade de Santo André)
No brasão da cidade que ostenta a cruz de Santo André podemos se lê em seu distico: “Paulistarum terra mater” (Mãe das terras paulistas). No brasão de nossa Igreja Particular de Santo André, nossa querida Diocese, que é nossa mãe em Jesus Cristo, reportando a seu padroeiro, poderemos escrever duas palavra que resumem todo o ser e operar desta Diocese nos seus 65 anos completados: FÉ E CORAGEM!
Muito Obrigado. Amém!