Caro Dom Leomar, meus queridos padres. Chegamos ao final desta jornada. Nosso Retiro Espiritual, o 5º retiro que participo com vocês. Nosso clero aumentou com a chegada de novos padres; religiosos; e com as ordenações! Nosso retiro nestes dias contou com a participação de 103 sacerdotes. Viemos buscar a face de Deus sabendo que Ele, antes, nos buscou primeiro.
Aqui estamos, seus ministros bem amados, que Ele colocou para sinalizar sua presença redentora no meio do seu Povo. A Igreja Particular tem seu pastoreio confiado ao Bispo e seu Presbitério. Bendigo a Deus e convido todos vocês para bendizer a Deus por nosso Presbitério. Não somos perfeitos mas estamos seguindo o Senhor, para que Ele nos torne perfeitos, na semelhança com Ele! Foi por Ele que um dia deixamos tudo! Neste retiro o Senhor nos falou e nos convidou a continuar seguindo-o carregando a cruz que nos levará à luz eterna.
Ouvimos nestes dias falar da crise do sentido da vida. São muitas as tentações de fuga como ilustra a 1ª leitura (1Tm 6, 2-12). São Paulo adverte a Timóteo e também a nós contra a sedução das riquezas, do saber, do status poder. Sempre as três tentações de Jesus no deserto. Tentações constantes que nos assaltam todo dia. Por outro lado, estamos mergulhados numa sociedade com marcas de violência, sofrimentos, tristeza, muita amargura e falta de esperança. Às vezes parece sem efeito o nosso ministério: “o deus deste mundo cegou a inteligência dos incrédulos, para que não vejam a luz do Evangelho da Glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Cor 4,4).
Enquanto isso, sentimos muitas dificuldades e resistimos, como escreve São Paulo: “atribulados, não abatidos; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados, derrubados mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos a morte de Jesus em nosso corpo, para que também a vida dele se manifeste em nós” (2Cor 4, 8-10).
Em tudo isto corremos o risco de desanimar, fugir da cruz, esquecer o primeiro amor… e nos tornarmos profissionais da religião ou funcionários do culto!!!
A Igreja vem em nosso auxilio colocando diante de nós o exemplo destes santos mártires que hoje celebramos: Padre André Kim Taegon, o leigo Paulo Chong e demais companheiros.
Eles vincularam as fontes de suas vidas a Jesus Cristo. Viveram a centralidade de Jesus em suas vidas. Assim, também conosco Jesus estabeleceu uma relação da qual depende nossa vida. Somos chamados a ter paixão por Cristo para vivermos em nossa vida a Paixão de Cristo, a paixão pelo Reino. Fomos chamados e dissemos SIM!
Meus queridos padres, tudo isso só pode acontecer no seguimento de Jesus. No discipulado como mostra o Evangelho: os doze caminhavam com Ele e também algumas mulheres (Lc 8, 1-3). São Paulo na 1ª leitura alerta contra a ganância; o Evangelho mostra que: aqueles que seguem Jesus vão se despojando de tudo. Os apóstolos de suas barcas e redes, famílias… as mulheres de seus bens (partilhados)…
Para seguir Jesus sendo discípulo, tudo vale a pena, pois tudo adquire sentido novo se o encontramos. O discípulo se torna neste mundo o bom odor de Cristo: “perfume de vida para os que creem e perfume de morte para os que não creem” (cf. 2Cor 2,16). Mas esta é nossa missão, é um combate!
É neste combate que viveremos a santidade hora fortes, hora fracos, mas quando somos fracos, não desanimemos, Jesus vem em nosso socorro e nos torna fortes. “Basta-te a minha graça” (2Cor 12, 9).
Saibamos escapar das ciladas do maligno. O Maligno antes de pecarmos nos encoraja e promete maravilhas se cairmos. Quando pecamos, nos acusa, induz ao desespero… Jesus antes de pecarmos nos coloca a cruz aos ombros, nos corrige e exige que reneguemos a nós mesmos, mas quando pecamos Ele nos acolhe, perdoa e encoraja com misericórdia. Escolhamos pois a Cruz, escolhamos Jesus.
A santidade é o que de melhor podemos oferecer ao mundo de hoje: São João Paulo II dizia que no mundo a Igreja não precisa de revolucionários, precisa de santos, porque eles sim são os que sinalizam, e nos quais Deus realiza o Reino. São as sementes “revolucionárias” que se tornarão árvores frondosas com flores, frutos e sementes… Não temas pequeno rebanho…
Não Tenhamos medo de nossas fraquezas. Pensemos nos 30 anos de Jesus em Nazaré, no silêncio e numa aparente inutilidade, foi daí que tudo começou. Mistério profundo que confirma , o que ouvimos do pregador do retiro: “mais vale o padre que você é do que aquilo que você faz como padre!” É preciso revistar Nazaré para entender o servo Javé.
Fica como Mensagem deste retiro, da palavra que ouvimos e dos Santos que celebramos, o apelo ao testemunho. Nosso maior serviço é a santidade.
Continuemos abençoando, continuemos pregando a Palavra, celebrando a Eucaristia, sinalizando o Reino no empenho pela justiça e pela paz em nossas comunidades.
Meus padres tomem consciência do poder e da força que através da Igreja Jesus vos confiou na unção sacerdotal: “De fato, embora vivendo na carne não combatemos segundo a carne, pois as armas do nosso combate não são carnais. São armas poderosas aos olhos de Deus, capazes de derrubar fortalezas, destruir sofismas e todo orgulho intelectual que se levanta contra o conhecimento de Deus, e capazes de subjugar todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2 Cor 10, 3-5). E o próprio São Paulo diz quais são estas armas: o escudo da Fé, a espada da Palavra e a Oração (Ef 6, 13ss).
Para sermos testemunhas, devemos ter o grande desprendimento dos místicos. Fazer a experiência de Deus para poder comunica-lo. Isto exige muito desprendimento e abandono: ninguém entra em contato último com Deus sem morrer: morre o homem velho e nasce o homem novo, capaz de recuperar para nossa época o projeto do Reino de Deus.
Em matéria de testemunho, o que poderemos oferecer ao mundo como Presbitério? Nossa unidade é nosso testemunho: se vos amardes todos saberão que sois meus discípulos (Jo 13, 35). Cessem as divisões entre nós, anulemos as sementes da ira, não bebamos o vinho do dragão (Dt 32, 33) que são a raiva e a inveja. “Ó Pai que todos sejam um como nós somos um” (Jo 17, 22). Jesus rezou pelo apóstolos e nós somos seus descendentes, rezou por nós! Pela unidade.
Continuemos unidos em torno de Jesus Cristo esforçando-nos por sermos Presbitério, pois temos todos os motivos para estarmos unidos e nenhum motivo para a desunião e divisão entre nós. Confirmemos nossa vocação (2Pd 1, 10).
Voltando para nosso campo de missão continuemos firmes procurando implementar nosso Sínodo, nosso Plano de Pastoral, preparando o mês missionário extraordinário, louvando a Deus pelos 65 anos de existência de nossa Diocese . Foram muitos os dons que Deus deu à Diocese de Santo André, entre eles, seus padres, que ao longo dos anos doaram suas vidas.
Sejam todos abençoados os de ontem e os de hoje. Amém.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André