Francesco Forgione nasceu em 25 de maio de 1887, em Pietrelcina, na Itália. Era um dos sete filhos de Grazio Forgione e Maria Giuseppa De Nunzio. Foi batizado um dia após seu nascimento, e aos doze anos foi crismado e recebeu a primeira comunhão. Sua infância foi marcada por uma grande proximidade com Nosso Senhor e Nossa Senhora, a quem ele via com frequência, além de uma grande amizade com o seu anjo da guarda. Aos quinze anos entrou no noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 1904 professou os votos simples e assumiu o nome de Frei Pio, e em 1907 professou seus votos perpétuos. Sua ordenação presbiteral se deu no dia 10 de agosto de 1910.
O recém sacerdote capuchinho, assim como em seus tempos de religioso de votos temporários, precisou passar um tempo na casa da sua família, devido a uma doença que o atacava. Em 1916 vai então para a sua primeira e derradeira missão: São Giovanni Rotondo foi o único local onde o Padre Pio trabalhou, até a sua morte. Neste único local de exercício de seu ministério presbiteral, muitas coisas extraordinárias aconteceram na vida desse sacerdote que sempre buscou uma vida de humildade e de comunhão com o Senhor, aquele que veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20,28). Isso não quer dizer de forma alguma, que foram os acontecimentos extraordinários que o fizeram santo, pois continua válida a verdade que o santo é aquele que faz nas ocasiões ordinárias, coisas extraordinárias. Mas parece que Deus elege alguns para que mostrem a sua glória (cf. Jo 9,3).
Seguindo a lógica de que a santidade se faz nas coisas ordinárias, feitas de forma extraordinária, comecemos então a falar sobre a vida ordinária de um sacerdote como Padre Pio o foi. Como as datas nos indicam, ele foi ordenado e viveu boa parte de sua vida antes do Concílio Vaticano II, o que significa dizer que ele celebrou boa parte de sua vida sacerdotal a liturgia que hoje conhecemos por extraordinária. E uma expressão muito usada na liturgia pré-conciliar, é que o padre “dizia a missa”. Muito bem, em hipótese alguma se quer aqui desprezar a Missa do rito extraordinário, o que quero dizer é que o Padre Pio fazia muito mais do que simplesmente “dizer a missa”. Sua devoção ao Mistério Eucarístico do Senhor era de tal forma grande, que sua Missa era meditada profundamente a cada passo, principalmente na hora da consagração. Inclusive, quando ele já estava sendo investigado pelo Santo Ofício à época, o enviado da Santa Sé ficava irritado com a sua Missa que demorava cerca de três horas para terminar.
Outra coisa ordinária na vida de um presbítero é o atendimento dos fiéis que buscam o sacramento da Reconciliação. Padre Pio passava horas a fio dentro de um confessionário ouvindo a confissão dos fiéis, que assim como na história de um outro santo sacerdote (o Cura d’Ars), vinham de muitos lugares do país e do continente. Ao ler isso até aqui, você deve estar pensando que o complemento necessário desta descrição, seria dizer que o Padre Pio era um paciente ouvinte dos penitentes, mas se você pensou isso está redondamente enganado. Ele era conhecido justamente por sua braveza, inclusive no confessionário. A tal ponto de expulsar a bofetões um fiel da igreja que tinha ido falar mal do Bispo. E mesmo assim a fila do confessionário não diminuía. Com certeza, porque as pessoas saíam transformadas daquele encontro com um sacerdote bravo e santo.
Por mais que se pense que o seu esforço homérico em arrecadar dinheiro para a construção de um hospital fosse um ato extraordinário na vida de Padre Pio, não o foi, pois ele seguiu o exemplo de tantos outros sacerdotes anteriores a ele que fundaram famílias religiosas para o cuidado dos enfermos. A diferença talvez, esteja justamente aí, enquanto os outros sacerdotes fundavam institutos de vida consagrada para que esses construíssem e administrassem os hospitais, Padre Pio fez isso com a ajuda de alguns poucos colaboradores e a resistência de alguns de seus superiores. Quando o seu ministro provincial veio lhe pedir dinheiro sabendo que gente do mundo todo lhe enviava para o hospital, Padre Pio coloca a mão no bolso e mostra que ele mesmo nada tinha para lhe dar.
Mas se o seu amor à Eucaristia, seu zelo pela conversão dos pecadores e seu cuidado para com os enfermos eram coisas ordinárias feitas de forma extraordinária, o que fazia do Padre Pio um homem extraordinário? Duas coisas principais: seu dom de bilocação e os estigmas que recebeu. Sobre o dom a bilocação, tudo o que se pode dizer sobre, já foi dito a respeito da vida de outros santos. Sobre os estigmas também, mas há aqui uma coisa de diferente em toda a história da Igreja Católica. No dia 20 de setembro de 1918, o primeiro sacerdote de que se tenha conhecimento na história da Igreja recebeu os estigmas da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Padre Pio não os queria, até porque os santos que passam por essas experiências místicas extraordinárias sempre sofrem muito com a desconfiança. E ele sofreu, apesar do grande fluxo de peregrinos a São Giovanni Rotondo, a Santa Sé o proibiu de celebrar a Missa em público e de atender confissão em 1923, só retirando a proibição sobre a Missa em 1933 e sobre a confissão em 1934. Dez anos proibido de ter contado com o povo de Deus através dos sacramentos. Mas é no fogo que se prova o ouro (cf. Eclo 2,5), e ele foi aprovado: em 1956 seu hospital foi inaugurado e em 23 de setembro de 1968 faleceu com grande odor de santidade. Em maio de 1999 é proclamado beato, em junho de 2002 é proclamado santo pelo Papa São João Paulo II, e seu corpo permanece incorrupto até os dias de hoje. Sua extraordinária santidade sobrevive até os nossos dias.
* Artigo por Rafael Ferreira de Melo Brito da Silva