III – CONFIANÇA, ESPERANÇA E PAZ: FRUTOS DA SANTIDADE
Existem realidades que tornam a vida bela? Realidades que levam ao crescimento e à alegria interior? Sim. Uma delas é a confiança.
CONFIANÇA. O que existe de melhor em nós se constrói através de coisas bem simples que até uma criança pode realizar. Uma criança é plena de confiança.
Mas em todas as idades, existem pessoas marcadas por sofrimentos, abandono, separação de entes queridos, morte. Assim, o futuro se torna incerto e elas perdem o gosto de viver, perdem a confiança… Para todos nós Deus deve ser uma fonte inesgotável de confiança. Ele é amor e perdão, nos acolhe como somos. Ele habita o centro de nosso ser.
Rezemos o salmo 42
A confiança não é alienação. Ela não ignora o sofrimento do mundo. O sofrimento e a dor no mundo questionam a pessoa de confiança. E então ela se pergunta: Como fazer parte dos que procuram tornar a terra mais habitável? O Espírito Santo que habita em nós nos sugere que somente estando unidos a Deus poderemos ser úteis aos outros. A vida na comunhão com Deus deve ser o manancial que faz brotar a confiança em nós.
Unidos a Deus em nosso coração, nós não fugimos de nossas responsabilidades: seremos capazes de estar firmes onde todos desanimam, avançar quando se instala o fracasso. A confiança que brota do amor de Deus em nós permite-nos viver um amor desinteressado.
Hoje existem muitas pessoas feridas. Cada um, aliás, tem uma ferida dolorida lá bem no fundo do coração. É aquela dor secreta que somente Deus e você conhece. Então, a confiança é como um bálsamo curador.
Onde encontrar um sentido para minha vida? Qual é o chamado de Deus para mim? A resposta vem sempre a mesma: Jesus Cristo é o sentido de nossa vida e o chamado que recebemos é para segui-lo.
Somente uma confiança ilimitada na força e no poder de Jesus, nos dará a capacidade de acolher o outro e de sermos pessoas que escutam o outro e não mestres que só desejam falar.
Escutar o outro, para que eles possam expressar os próprios limites e falar de suas feridas, descobrir os próprios dons…
Você já se perguntou o que há de mais belo em sua vida? Pense um pouco. Não seria talvez a oração? Teu encontro com Deus tanto a sós como na comunidade? Não seria por acaso teu encontro com este Deus presente em teus irmãos?
Se você tem confiança em Deus você poderá despertar confiança nas pessoas. É essencial procurar compreender as pessoas, descobrir nelas o dom que Deus lhes deu. Não nos devemos deter nos fracassos, nas amarguras, nas tristezas, mas ir além do que o outro nos mostra e vislumbrar o tesouro, o dom, o talento que Deus colocou em cada um.
ESPERANÇA.Existem no evangelho realidades que tornam a vida radiante, a confiança nos leva à esperança. A esperança não decepciona. A esperança nos tira do desânimo, dá sabor à nossa vida.
A esperança é âncora segura nos diz a Carta aos Hebreus. Ninguém pode ter uma vida de fé sem esperança. Podemos dizer que sem esperança não se vive. Esperança não é espera. A espera é algo passivo, a esperança é ativa: é fazer todo o bem possível, é preparar-se para um encontro…
E onde está a fonte da confiança e da esperança? Esta na audácia de uma vida de comunhão com Deus. E como esta comunhão é possível? Porque Deus nos amou primeiro Jo 4,10-19). Sem cessar Deus nos procura mesmo que não tenhamos consciência disso (Lc 15, 4-10). É a certeza do amor de Deus por nós que nos dá esperança.
PAZ. A confiança e a esperança nos conduzem á paz. A paz é outra realidade do evangelho que torna nossa vida bela, digna de ser vivida. Nossa vida hoje está rodeada de violência, competição, agressividade, desamor… Quem é de Cristo deve ser capaz de levar a paz ela é o dom maior do ressuscitado.
É necessário começarmos a construir a paz em nosso coração e depois com o coração pacificado poderemos ser discípulos e discípulas de Jesus, portadores da paz. Sim. A paz em nosso coração, torna a vida bela para os que nos cercam. Pacifique o teu coração e todos ao teu redor serão capazes de encontrar o caminho para Deus.
A confiança, a esperança e a paz do coração se encontram em uma misteriosa presença em nós: Jesus Cristo. Através do Espírito Santo, Jesus permanece quieto dentro de nosso coração esperando que lhe possamos dar atenção. Ele nos diz: Tu conheces o caminho da esperança que eu abri para ti?
Então como não responder a Jesus: Eu queria te seguir por toda minha vida, mas vós conheceis minhas fragilidades. Porém Jesus nos deu tudo, Ele nos deu o seu Espírito Santo para nos santificar.
Quem tem um coração decidido a confiar em Jesus Cristo com toda força do seu coração, tem uma decisão a tomar: viver na gratidão, ter o sorriso dos redimidos.
Temos confiança, esperança e paz, porque temos certeza de que Deus nos quer felizes (Mt. 5,3-12). As circunstancias da vida menos favoráveis nos trazem sua presença amorosa. Ele está presente tanto nas coisas alegres como nas tristes. Sua presença é sempre no sentido de nos conduzir á felicidade plena, às vezes por caminhos inesperados.
O que Ele nos pede é que nos abandonemos a Ele pois este é o caminho da santidade que gera em nós os frutos da confiança, esperança e paz!
Lição: Salmo 22. Ler e compor um salmo 22 a partir de tua vida.
II – PRESENÇA MISTERIOSA E SANTIFICADORA
No fundo de nosso coração está a esperança de uma presença capaz de nos tirar da solidão na qual vivemos. Jesus é a presença oculta no coração do ser humano; “Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo o ilumina” (Jo 1,9). Esta luz é Cristo ressuscitado.
Quem é Jesus? É o Filho de Deus. Deus é o supremo doador e nos deu tudo até o dom mais precioso: seu Filho. Deus estaria distante de nós não fosse Jesus. Jesus faz a experiência perfeita do Pai e no-lo revela (Jo 14,9). Agora ressuscitado Ele vive em cada um de nós pela força do Espírito Santo (Jo 14,16-20). Jesus nos revela o Pai e o Espírito Santo nos revela Jesus, fazendo-nos recordar tudo oque Ele ensinou.
A maioria das pessoas não sabe que Cristo está unido a eles (mesmo que eles não saibam disso como escreve o papa João Paulo II em RM 7), não conhecem seu olhar de amor. Toda criatura humana é habitada pelo Espírito Santo. Há os que sabem disso e os que somente saberão na eternidade.
Pelo Espírito Santo que Jesus envia de junto do Pai, temos em nós o dinamismo divino, a força da fé da esperança e do amor capaz de nos dar coragem e consolo. Podemos dizer: “Jesus Cristo, em todo momento me apoio em ti, mesmo quando não consigo rezar, tu és minha oração”.
Jesus está presença a nós por meio do Espírito Santo. Para uns, esta presença é mais sentida, para outros não. Para todos a fé continua a ser esta humilde confiança na presença amorosa de Deus em nós.
A fé é uma realidade simples tanto para os que sabem escrever e ler como para os que são incultos. Certa vez um grande escritor encontrou-se com um camponês ignorante que cultivava a terra. Na conversa que tiveram o camponês lhe disse: ‘Eu vivo para Deus’. Aí estava resumida toda sua vida de profunda fé. O escritor pensou, eu que sou tão estudado não conseguiria resumir minha fé assim de forma tão simples.
A fé é um chamado de Deus que soa nas profundezas de nosso coração, para vivermos para Ele, para vivermos na sua presença, para vivermos na plena confiança nele.
O Espírito Santo é como uma luz na noite de nossa via. Por meio desta presença misteriosa, o ressuscitado nos sustenta, encarrega-se de tudo, toma sobre si nossas dores e angústias, faz-se nosso divino servidor. Nós nos espantamos diante de tão grande amor.
Esta confiança total em Cristo é essencial para que sejamos santos. Maria disse ao anjo: seja feito conforme tua palavra, eis aqui a serva do Senhor” e Jesus disse: “Pai em tuas mãos entrego meu espírito”. Devemos olhar para Jesus Cristo como olhamos para uma lâmpada que brilha na escuridão, até chegar a manhã (2 Pr 1,19).
Cristo de compaixão, nas fontes do teu amor. No teu Evangelho descobrimos
que pode ter em nós uma parte de escuridão. Porém descobrimos que há também em cada um de nós. A presença luminosa do Espírito Santo.
Jesus é pleno de compaixão e perdão. Ressuscitado aparece a Pedro e não lhe repreende por sua traição, mas perdoa e o chama de amigo (Jo 21,17). Se hoje Jesus nos perguntasse como a Pedro: Tu me amas? Qual seria nossa resposta sincera? Jesus não obriga ninguém a amá-lo, mas Ele nos ama primeiro. Ele está sempre a nosso lado nos acontecimentos bons ou nos ruins.
Nós somos chamados a viver esta presença de Jesus em nós, em comunidade. É na comunidade que ouvimos a Palavra deste que nos ama, é na comunidade que comungamos seu corpo e sangue que nos alimenta. A experiência de amor se dá entre os que sentem a presença de Jesus em seu coração. A partir daí eles podem irradiar o Evangelho ao mundo.
O amor de Jesus nos chama para a bondade e a simplicidade em meio a um mundo violento e soberbo. Qual seria nossa resposta a este Deus que tanto nos ama? A resposta ao amor só pode ser amor. Abandonar-se ao amor, como dizia Santa Terezinha do Menino Jesus. E Santo Agostinho dizia: “Nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em Deus” (Confissões, I,1).
Nosso coração tem sede de amar e ser amado. Porque uns sabem que são amados e outros não? Porque não temos quem nos escute. Todos querem falar e ninguém quer escutar o outro. Ser ouvido apazigua o coração. Escutar o outro dizer suas preocupações e angústias…
O ser humano é habitado pelo abismo e pela plenitude. É preciso ser sincero consigo mesmo e ter pessoas com quem podemos manifestar esta nossa sinceridade a respeito do que somos. É preciso ter para quem mostrar nossas feridas. É pelo dom de nossa vida aos irmãos que Deus deseja que seja percebido no mundo o fogo do fogo do amor.
Para que isto aconteça é necessário que façamos uma escolha. É preciso escolher o amor, escolher amar. Quem vive para Deus escolhe amar. Quem vive no Espírito de Deus escolhe o amor. Quem decidiu amar deve irradiar a bondade e se precaver contra todo egoísmo, falsidade e mentira. Quem vive do amor não exclui ninguém do seu perdão e ouve sempre a voz do amado Jesus dizer-lhe a cada hora: “Vem e segue-me” ( Mc 10,21).
Jesus não diz busca-te a ti mesmo, não diz sê tu mesmo, mas diz-nos vem e segue-me! O Espírito Santo nos ensina o caminho e nos ensina a lançar no fogo da oração, todo medo, angustia e inquietação. Jesus nos ensina a orar quando estamos transfigurados (Tabor) e quando estamos em lágrimas (Getsêmani).
Esta confiança deve ser humilde e sincera. Não podemos nos fixar em nossos fracassos, não devemos olhar para traz, nos sugere o Evangelho (Lc 9,62). É preciso pedir constantemente a Jesus e suplicar-lhe; “Não deixe que minhas sombras me amedrontem…”. A presença misteriosa de Jesus em mim através do Espírito Santo, deve colocar alegria em meu coração. Nem mesmo a idéia de que um dia devo morrer, pode me tirar a alegria, se vivo na confiança ilimitada neste Deus que mandou seu Filho, o qual deu a vida por mim.
O Evangelho nos aconselha a confiança total e nos ensina que nossas inquietações não resolvem nada (Mt 5,36). É preciso aprender a confiar e esperar como alguém que foi redimido. Uma vez encontrei uma senhora que fora operada de uma doença grave e dolorosa, comentando o fato comigo ela disse; “É melhor que seja eu a ter esta doença porque eu já aprendi a sofrer, para mim será mais fácil”.
Existem muitas pessoas que irradiam a santidade de Cristo sem o perceber, elas vivem na lei do amor que é a lei do céu. Estão na terra, mas pertencem ao céu, como anjos. Nem elas percebem isto. O seu perfume é sentido pelos outros. Elas vivem o que Paulo ensina em 1 Cor 13,1-8. A humanidade pode ter esperança enquanto houver pessoas assim, que oram, amam, perdoam e sabem correr riscos por causa de Jesus Cristo.
Lição: Ler 1Cor. 13, 1-8 e pedir a Deus a graça de viver no amor confiante.
I – CURA DO CORAÇÃO: EXIGÊNCIA PARA A SANTIDADE!
Por meio do Evangelho de São João compreendemos que Jesus não veio ao mundo para condena-lo, mas para salva-lo (J0 3,17). Porém o coração humano aprece habituado a um medo secreto de Deus. De onde vem este sentimento de culpa já na primeira infância? Pensar que Deus condena o ser humano é um dos maiores obstáculos à fé. Não devemos ter medo de Deus. Jesus nos ensinou a chamar Deus de Abbá = paizinho.
Deus não se impõe pelo medo, mas pelo amor. Jesus quando era maltratado não amaldiçoava, mas pedia a Deus perdão pelos que o afligiam. “Abençoai os que vos perseguem” recomendará o apóstolo Paulo. As pessoas precisam desesperadamente de um olhar de confiança, para reencontrar a alegria de viver. Elas esperam isto de nós. No coração de uma criança, saber que ela é amada e perdoada com toda ternura, pode ser uma fonte de paz por toda sua vida.
Deus não é um atormentador da consciência humana. Ele esconde nosso passado de pecado no coração misericordioso de seu Filho e toma conta de nosso futuro com todo carinho. É o que chamamos de providência de Deus. A certeza do perdão de Deus, é uma das mais consoladores realidades do Evangelho (Cl 2,13). Como nos consolam as palavra de S. João: “Diante de deus podemos tranqüilizar nossa consciência; e isso, mesmo que a nossa consciência nos condene, porque Deus é maior do que a nossa consciência, e ele conhece todas as coisas”(1Jo 3,20).
Cristo jamais nos convida a nos fecharmos em nós mesmos, a entrarmos em desespero, mas ele nos convida ao arrependimento à confiança total no paizinho (abbá) que nos ama, perdoa e cura. Viver do perdão nos da coragem para atravessar todas as dificuldades. Viver do perdão nos abre para a bondade, para sermos semelhantes a nosso Pai que está nos céus.
Nada é tão desumano como perdoar os que nos fazem mal, é algo anti natural porque temos o instinto de preservação e auto defesa. Mas Jesus quer despertar em nós o nosso lado divino. Deus perdoa e nós somos seus filhos, devemos nos assemelhar a nosso Pai e então ele nos pede que perdoemos, que rezemos por nossos inimigos (Mt 5,44). Jesus nos pede: “Sede misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso” ( Lc 6,36).
Ás vezes somos tentados, ruge ao nosso redor as feras do ódio, raiva, rancor, ressentimento. Carregamos em nós as brasas recobertas, as marcas de nossos pecados. Então, Jesus se torna um fogo que vai queimando o que está debaixo destas brasas, vai queimando os espinhos secos que estão nos machucando e fazendo com que machuquemos os outros. Então, nós nos lembramos da bela roseira que dá flores perfumadas e, no entanto, ela se alimento do esterco mal cheiroso que se coloca a seu redor. Assim Deus faz este milagre: ás vezes nossa bondade é alimentada por nossas pequenas faltas e fraquezas, Basta ter humildade!
Mais que nosso corpo é nosso íntimo, nosso coração que precisa ser curado pela bondade de Deus. Somos curados se tivermos uma humilde confiança e um abandono total nas mãos de Deus! Mesmo as provações na nossa vida, se tivermos confiança em Deus, elas nos fortificarão: “Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,10).
O cristão não se detém nas suas dificuldades, ele busca cumprir o desejo de Jesus Cristo, o mandamento do amor. João XXIII dizia: “Às vezes me sinto como um pássaro que canta em uma árvore cheia de espinhos, mas eu canto”.
Sobre a terra há muita violência e maldade, coisas grandes. Há também pequenas violências que prejudicam a vida de comunidade: suspeita, desconfiança, humilhações, competições, desprezo pelos fracos ou diferentes de nós, ressentimentos… são feridas que precisam ser curadas…
Então nos perguntamos: se Deus é amor, de onde vem o mal que nos habita e habita o mundo? Ninguém pode explicar o mal, Jesus também não explicou, ele nos ensinou, porém, a enfrenta-lo e vence-lo. O que Jesus nos ensinou é que o amor verdadeiro desmonta a estrutura do mal. O que Ele nos ensinou é que se vence o mal fazendo o bem.
Deus então se nos aparece não como o todo poderoso, mas como o todo amoroso. Deus é amor(1 Jo 4,8) ele só pode nos amar. Por isso ele sofre conosco, ele sofre com o inocente. Jesus viu Marta e Maria chorarem a morte de Lázaro, Jesus chorou com elas. (JO 11, 32-36).
O que sabemos é que o sofrimento não vem de Deus. As pessoas que tem fé de verdade compreendem esta verdade e colocam toda sua confiança neste Deus que escreve direito por linhas tortas. Que faz o milagre de tirar vida onde tem morte. De fazer com que tudo concorra para o bem dos que o amam. Diante do sofrimento, é preciso beber confiança de nossas fontes interiores. O balde, para retirar a água é a oração. Assim a vida interior de amizade com Deus nos revela que Ele é só bondade e mandou seu Filho ao mundo para que todos se sintam amados por Ele.
Jesus nos ensina que é debruçando-se sobre os sofrimentos do outro, como ele fez, que nós encontramos respostas para o nosso próprio sofrimento. É assim que estaremos em comunhão com Deus através da comunhão com nossos irmãos e irmãs.
Lição: a partir do que refletimos escreva uma pequena prece para ser feita na missa na “Oração dos fiéis”