Meditação no retiro da Irmandade do Servo Sofredor em Santo André na Paróquia S. Geraldo
Dom Pedro Carlos Cipollini
Deus Pai desejou que a salvação se realizasse por um pobre em meio aos pobres, Jesus Cristo seu filho que se encarnou em um “mistério de pobreza”. É o mistério da kenosi ou seja, rebaixamento.
Assim se expressa São Paulo a respeito do Salvador pobre e sofredor: “Ele, embora sendo imagem de Deus, não considerou como extorsão o ser igual a Deus, porém, esvaziou-se a si mesmo, tomando a imagem de servo, tornando-se semelhante aos homens, e, em aspecto, sendo encontrado como homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, morte de cruz”. (Fl 2, 6 – 8).
Jesus viveu em um ambiente muito simples, cercado de discípulos que vieram das camadas mais baixas da sociedade, trabalhadores do seu pais e do seu tempo. Jesus desejou ser um profeta pobre apesar das tentações o convidarem para percorrer o caminho oposto: caminho da abundância, prestígio, poder. “Jesus é o profeta dos pobres e oprimidos, antes que dos pecadores” (O. Spinetoli, Chiesa dele origini, chiesa del futuro, Borla, Borla, Roma, 1986, p. 168).
O Evangelho que Jesus anuncia é destinado a levar as pessoas à amizade com Deus mais que à paz e felicidade terrena, ele convida para a urgência da conversão (Mc 1,15) e se apresenta como o salvador dos pobres e libertador dos oprimidos (cf. Lc 4,18-22; Mt 5,1-3).
Jesus proclama em Nazaré que veio evangelizar os pobres (Lc 4,18-22) e depois no Sermão da Montanha proclama: “Bem aventurados os pobres” (Mt 5,3). Ele não bendiz a pobreza que é um mal, o primeiro que o ser humano encontra, mas ele diz que são bem aventurados porque Ele Jesus veio lhes trazer a salvação e mudar suas vidas. Jesus se dirigiu a todos mas escolheu preferenciar os pobres.
Assim, Jesus o Messias dos Pobres manifesta um amor todo especial aos pobres, doentes, pecadores. Jesus escolheu a condição humilde e servil para solidarizar-se com os últimos e necessitados. Jesus se fez pobre em favor dos outros: “por vocês” (cf. 2Cor 8,9).
A Igreja primitiva vai entender que é necessário passar através da pobreza, da fome, da sede e suportar as perseguições para ser um verdadeiro fiel, um verdadeiro crente que crê realmente em Jesus e no Evangelho. De fato, para apropriar-se do tesouro do Reino e adquirir a perola preciosa é necessário vender tudo o que se tem (cf. Mt 13,44-46). O empobrecimento voluntário não é um fim em si mesmo, mas se destina à tranquilidade espiritual, à paz interior, ao equilíbrio moral da pessoa que o vive porque a livra do perigo das riquezas que ameaçam a vida eterna (cf. Mt 6,24).
É preciso ter bem claro que o Salvador Pobre Jesus, não beatificou a pobreza, mas os pobres, não condenou a riqueza mas os ricos pois o bem estar material não é um mal porém pode tornar-se um mal.
O Pai ordena ao Filho para se encarnar e ser o salvador pobre, o Servo Sofredor de Javé que toma sobre si o pecado do mundo (Is 53,5-12). O Pai deseja que o Filho se encarne não em uma humanidade perfeita mas em uma humanidade decaída.
O Pai quer o Filho pobre, de uma pobreza radical. E o filho aceita ser um salvador pobre. Por que aceita? Porque desde toda a eternidade, no seu próprio ser de filho ele é pobre de coração diante da vontade do Pai. Ele é pobreza de sí na abertura para o Pai. A pobreza do coração condiciona a outra pobreza, a pobreza exterior. Toda a vida de Jesus será conduzida até á pobreza da cruz, através desta pobreza de coração.
A pobreza está ligada essencialmente à salvação e ao Evangelho. Ela é evangélica no sentido mais forte do termo. Porque é nela e por ela que se vive o mistério que constitui o coração da boa nova. Jesus nos salva no seu sacrifício de Servo Sofredor: “Por suas chagas fomos curados”(Is 53,5), (cf. J. M. Tilard, La salvezza mistero di povertà, Brescia, 1978, p. 28).
A ressurreição de Jesus revela a fecundidade da pobreza. O Senhor Jesus não é outro que o Servo pobre Jesus o qual viveu com mor sua pobreza.
Podemos dizer que Deus vê no vulto do pobre não somente a dor, mas vê neles a semelhança do seu próprio Filho pobre por amor, a fim de salvar a humanidade.
E quem crê em Jesus e o segue, vai se assemelhando a Ele também na opção pelos pobres e pela pobreza.