3º Domingo da Quaresma 24/03/2019
Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Leituras: Ex 1-8.13-15; 1Cor 10, 1-6. 10-12; Lc 13, 1-9
Prezados irmãos e irmãs estamos hoje dando mais um passo na nossa caminhada quaresmal. Nossa celebração hoje tem um sentido todo especial, além da grande ação de graças pela salvação que temos em Jesus Cristo: queremos rezar pelas vítimas das enchentes e também pelos flagelados.
Ao mesmo tempo agradecer os inúmeros gestos de solidariedade, partilha e amor fraterno vividos nestes dias.
Saúdo todos os presentes, na pessoa do Padre Paulo Afonso, pároco desta paróquia, saúdo todos os padres presentes, os diáconos, as autoridades, ( ) todos os cristãos leigos e leigas. Sejam acolhidos no amor de Deus para esta celebração.
A semana passada, com a transfiguração nós fomos convidados a subir a montanha para contemplar Jesus Cristo transfigurado no seu esplendor. Ele nos convida a estarmos unidos a Deus para colaborar com Ele, na tarefa transfigurar este mundo, ou seja de instalar o Reinado de Deus.
Hoje ouvimos na Palavra proclamada, o que devemos fazer quando descermos do monte a transfiguração. No livro do Êxodo, Deus se manifesta a Moisés diz-lhe: “Observei a miséria de meu povo no Egito e ouço seus gritos por causa da opressão em que vivem, conheço seus sofrimentos. Vou descer para libertá-los do poder do Egito e fazê-lo sair desta terra de opressão para uma terra espaçosa”(Ex 3)
Este é o caminho que nos é proposto: ouvir as pessoas, suas angústias e sofrimentos e ajudá-las a se libertarem. Este caminho de fraternidade nos é proposto por Deus. Mas de onde virá nossa força? Somente poderemos fazer isto se no íntimo de nosso coração, estivermos agradecidos a Deus porque sentimos que Ele nos libertou de nossas opressões interiores e exteriores. Quem sabe que já foi salvo do “abismo de sua vida” (Sl 102) e não se esquece dos benefícios de Deus em sua vida, como diz o salmo.
“Se não vos converterdes, todos morrerão…”(Lc 13) Às vezes guardamos nossa vida, não a usamos em benefício dos outros e vivemos nos lamentando, quando muitos gostariam de ter o que temos, e viver a vida que vivemos. É preciso uma conversão para ir ao encontro dos irmãos. Deixarmos de nos lamentar e murmurar e ir ao encontro dos irmãos, isto é missão! Toda saída de nós mesmos é missão e colhida. Com estas atitudes de acolhimento e missão de paz e fraternidade, é que nosso mundo vai ganhar mais vida.
Mas para sermos bons precisamos abandonar a ideia errada que temos de Deus.
Desde cedo nos é passada a ideia de um Deus que castiga e que exige de nós o que não podemos dar. João Batista mesmo dizia: o machado está no pé da árvore. A árvore que não der fruto será cortada e queimada. Mas Jesus revela-nos o amor misericordioso de Deus que espera, dá uma chance e nunca desiste de nós. Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Deus quer que ajudemos uns aos outros, se vivermos no egoísmo vamos perecer.
Nossa sociedade é desenvolvida e maravilhosa, o progresso é grande, mas não é para todos. Infelizmente a pobreza no mundo está aumentando. Por isso existe a necessidade urgente de parar com a política de eliminar os pobres, deixá-los morrer no descaso com sua situação. É preciso apostar nas pessoas, dar uma chance para que possam viver e dar frutos. Se não existir mais justiça na distribuição de renda, acabaremos todos sofrendo as funestas consequências desta situação.
A Igreja nos aponta nesta quaresma um caminho de conversão. Pistas para seguirmos este itinerário de ajudar os irmãos, em um processo de conversão não só pessoal, mas social. São as políticas públicas como expressão de uma fraternidade organizada que previne as catástrofes, que evita o sofrimento dos mais fracos e pobres.
Muitas medidas boas e providências já são tomadas, mas não são suficientes. Existem muitos empecilhos e entraves para atender as pessoas mais fracas e excluídas. Jesus pede nossa conversão: deixar a figueira viver e não eliminá-la. Não se pode cair na tentação de retardar o socorro aos pobres porque eles, para muitos indicadores econômicos não contam, e para outros não dão lucro.