Queridos irmãos e queridas irmãs! Acabamos de ouvir o evangelho que nos foi proclamado e que nos fala das bem aventuranças. Quantas vezes já ouvimos esse evangelho! Na verdade, a proclamação do evangelho e as leituras feitas hoje nos falam do projeto de Jesus, que é o Reino de Deus. A primeira leitura nos convida a confiarmos totalmente em Deus e no seu projeto. Porque Deus que tem o poder. Para ele, nada é impossível. A nossa confiança deve estar Nele, mesmo porque o mandamento maior é amar a Deus acima de todas as coisas.
E esse amar implica reconhecer que é Dele brota vida, a fonte da vida. E nós também com fé acolhemos o projeto de Deus que Jesus anuncia, que é o Reino de Deus, porque sabemos que esse projeto está em andamento e já com a ressurreição de Jesus começou a ser vitorioso.
As forças da nossa existência terrena não concluem aqui. O mundo com a sua mentalidade, baseada no deus dinheiro, no lucro, no prazer, acha que tudo se resolve aqui. Mas não. O Reino de Deus já está presente em nosso meio, já está atuando, já está evoluindo, mas ele se completará na eternidade. Para você, no dia que morre e vai para Deus. Mas para toda a raça humana no fim da história quando Cristo será tudo em todos e aqueles que com Ele sofreu para implantar o reino, com Ele triunfarão.
Por isso a palavra de Deus nos convida a fazer de tudo para entrarmos no dinamismo do Reino de Deus. Se nós participarmos da eucaristia, ouvimos a palavra, dos sacramentos, da comunidade, tudo isso nos fortalece para aceitar Jesus em nossa vida. Mas não somente a pessoa dele. Mas também o que ele ensinou. Porque as vezes ocorre que nós aceitamos a pessoa de Jesus, mas não o que Ele ensinou. Aceitamos Jesus sem a cruz. Aceitamos Jesus sem a sua palavra. Não. É preciso aceitar Jesus do começo ao fim. De Belém até o calvário, até a morte, a ressurreição. E o que são essas bem aventuranças ? São as leis do Reino de Deus.
Moisés subiu o Monte Sinai e lá no alto da montanha, Deus lhe falou e entregou os dez mandamentos. E aqui, nesse evangelho de Lucas, ninguém sobe na montanha. É Deus que desce a montanha. É Jesus que vem na planície da humanidade trazendo a nova lei que completa a primeira. Que leva a plenitude os dez mandamentos. Quem quiser entrar no Reino de Deus tem que se comportar assim.
Buscar a justiça, amar e promover a paz, a solidariedade, a fraternidade, bem aventurados os pobres, aqueles que confiam em Deus acima de tudo. E o pobre materialmente, realmente, só tem Deus por ele. E nós vemos como a maioria da nossa população no Brasil vive na pobreza, em muitos lugares na miséria.
E isso é fruto do egoísmo, do anti reino. Porque existe o Reino de Deus e o anti reino, as coisas contrárias ao Reino de Deus. Tudo que é maldade, privilégios. Brasil é o país dos privilégios. Por isso que as coisas não arrumam. Então, Jesus deixa bem claro que Deus está ao lado daqueles que não tem pra eles, a não ser Deus. Deus está ao lado daqueles que não tem ninguém que olhe por eles, a não ser o próprio Deus. Um pai de família quando vê um filho passar fome, ele toma as dores do filho. O pai procura um jeito, procura os irmãos para ajudar. Esse é o Reino de Deus. A partilha, a fraternidade, a justiça, a solidariedade.
E para isso existe a Igreja. Para levar adiante o Reino de Deus. E Jesus diz: ‘Esforçais para entrar no reino’. Porque a felicidade, essas bem aventuranças, não é para depois que você morre. É agora! Quem entra no Reino de Deus e assume o projeto de Jesus já começa a ser feliz. Porque o próprio Jesus disse, nos Atos dos Apóstolos (20, 35): ‘Coisa mais bem aventurada é dar do que receber’. E o Reino de Deus é isso. Dar a sua presença, o seu amor, partilhar o pão. Dar atenção. Não adiantar dar esmola e se ver livre da pessoa. O evangelho nos compromete.
E ainda as comunidades existem para serem sinais do Reino de Deus. Porque as bem aventuranças são retratos de Jesus. Porque a comunidade deixou essas bem aventuranças do evangelho. Porque percebeu que Jesus era assim. E a última para fechar com chave de ouro, diz ‘bem aventurados vocês, quando forem perseguidos por causa de mim’. Porque quem vive as bem aventuranças acaba sendo perseguido.
De qualquer forma, muitas vezes a perseguição não é como aconteceu com os mártires. Mas em forma de calúnia, como o padroeiro daqui. São Geraldo sofreu tanta calúnia, porque ele era bom. E venceu tudo, porque Deus é o fiador de quem está comprometido com o seu reino. Ele é o advogado. Por isso, a leitura diz: ‘maldito o homem que confia no homem, e não confia em Deus’.
Meus irmãos e minhas irmãs! A comunidade existe para levar adiante o Reino de Deus. E essa comunidade já tem uma longa caminhada, bonita, com essa preocupação de implantar o Reino de Deus nos corações, na vida do dia a dia. A comunidade vive, pratica e celebra a fé. E Jesus está presente na comunidade. Ele diz: ‘Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos’.
Essa presença de Jesus está na eucaristia, na palavra, no amor que vivemos entre nós. Mas também nos pastores que Ele dá a sua Igreja, na pessoa de Pedro Santo Padre, nos bispos sucessores dos apóstolos, padres que colaboram com a missão pastoral.
E hoje chega nesta paróquia o padre Marcos Vinicius, que eu tive a alegria de ordenar junto com os outros quatro companheiros em agosto de 2018. Cada um já está pela grande necessidade de nossa diocese à frente de uma paróquia. Graças a Deus são todos responsáveis. Fico muito feliz por eles. Trabalhadores. Que vocês possam acolher o padre Marcos que vem de coração aberto. A primeira paróquia marca muito a vida de um padre. Positivamente, se ele for bem acolhido. Negativamente, se não for bem acolhido.
Então, essa paróquia vira uma página e a paróquia, assim como todos nós devemos olhar para frente. O futuro pode nos inspirar, nos ajudar, mas não paralisar. Porque se apenas ficarmos olhando para trás viramos estátuas de sal, como está na Bíblia. A mulher de Ló olhou para trás e virou estátua, ficou paralisada e ainda amarga, salgada, porque não olhava para frente.
Assim também acontece conosco. Então hoje começa uma nova etapa. Vamos bendizer a tudo que foi feito aqui, pelo trabalho dos Filhos da Caridade. Padre Miguel esteve lá na Cúria para se despedir de mim, antes de ir para a França. Conversamos bastante. Um homem bom, trabalhou muito, anos e anos aqui no Brasil. Ele atuou muito nessa comunidade e tem muito amor por todos, assim como os padres Jorge e Júlio, e tantos outros padres. Que Deus os abençoe.
Agora começa uma nova etapa, vem o padre Marcos Vinícius. E como faço em todas as posses que tenho celebrado gostaria de dizer uma mensagem também para o padre Marcos. Quero citar o Papa Francisco, a vocação sublime e maravilhosa de ser padre sofre tentações, em especial, a tentação de ter uma vida dupla e omissa, que acaba na mediocridade até a busca de uma vida sossegada, que se desvia de renúncias e sacrifícios. Então o padre precisa da oração de todos, da ajuda de todos, para que ele persevere.
Nossa época se caracteriza pelo desprestígio de normas, leis que possam dirigir as pessoas como essas bem aventuranças. Cada um quer fazer o que dá na cabeça. O consumismo faz com que o modelo geral da sociedade seja o self-service. Não se aceita a fé na sua totalidade. Tudo é relativo, cada escolhe o que lhe convém. Podermos caracterizar nossa época com essas breves linhas. O espírito de abnegação está desvalorizado por toda parte. Enquanto se reforça a paixão pelo ego, o bem estar, a saúde, nós deixamos de nos reconhecer a preocupação de viver para outra coisa, se não nós mesmos. Viver para os outros? Viver para Deus? Não. Quero viver para mim. Essa é a mentalidade da nossa época. Agora, o padre é aquele que vive para os outros.
Diante dessa realidade é muito ceder ao mundanismo. Esse período que é buscar ao invés da glória do Senhor, a glória humana , o bem estar social acima de tudo. O que é uma maneira sutil de procurar os próprios interesses. Não os interesses de Jesus Cristo.
Aqui chega o padre Marcos Vinicius para assumir a tarefa de ministrar essa comunidade. Ser o bom pastor. Ele é novo, mas foi preparado para isso. Tem boa vontade, um grande coração. E certamente poderá contar com a ajuda de todos vocês. Antes de ser seminarista trabalhou, fez os seus estudos, de forma que vocês o recebam e agradeçam a Deus pelo bispo colocar um padre nesta paróquia.
É a sua primeira paróquia e vocês marcarão a vida dele para sempre. Receber o padre e acolher o seu ministério é uma questão de fé em Jesus. ‘Quem vos recebe, a mim recebe’. Recebemos porque temos fé. É aquele que vem em nome de Jesus. As pessoas de fé acolhem, ajudam, suportam e estão juntos porque vem do padre, aquele que Deus escolheu, como escolheu os apóstolos, como escolheu tantos outros, não por seus próprios méritos, mas pela sua misericórdia misteriosa.
Nosso povo espera do padre seriedade moral e espiritual. Também o uso dos recursos materiais, dos bens da paróquia que estão sob administração do sacerdote. Sem lhe pertencer, mas pertencendo a comunidade. Porém, sob os cuidados do padre que é o administrador responsável primeiro pela comunidade, junto com os leigos.
Ora, diz São Paulo na Carta aos Coríntios: ‘O que se exige dos administradores é que cada um se mostre fiel à missão que lhe foi dada’.
Estamos numa sociedade que preza muitos seus direitos, mas se esquece dos seus deveres, disse o Papa Francisco, num discurso em Roma no dia 20 de novembro de 2014.
Queridos irmãos e irmãs! Sei o quanto essa comunidade é generosa, fervorosa e atuante, junto com todas as comunidades. Que Deus abençoe vocês, a boa vontade, o amor e o carinho com que vocês acompanharão o ministério do padre Marcos Vinicius.
AMÉM!