Queridos irmãos e irmãs! Vamos ouvir atentamente a reflexão do Evangelho para que as palavras que entram pelos ouvidos cheguem ao coração, nosso íntimo. Jesus que nos fala, Jesus que nos chama, assim como o Evangelho apresenta. E o Evangelho nos mostra que esses homens pescadores que já, de certa forma, seguiam Jesus, neste dia, como nós dizemos popularmente ‘caiu a ficha’ e eles colocaram fé na palavra de Jesus. Eram pescadores experientes e Jesus pergunta: ‘como foi a pesca?’ Eles dizem que não conseguiram nada. E Jesus diz: ‘ Avancem para águas mais profundas, lancem as redes’, quer dizer, tenham coragem, não desanimem, não fiquem parados, arrisquem. E Pedro diz: ‘ Em atenção à sua palavra vamos fazer isso, embora não vai dar certo, nós já tentamos’. E não é que deu certo?
Quando se ouve a palavra de Deus, quando se acredita na palavra de Deus, tudo pode acontecer, pois o anjo disse a Maria: Tudo é possível para quem tem fé. E Jesus, então, diz a eles: ‘ Não tenham medo’. Quem segue Jesus não pode ser dominado pelo medo. Porque o medo pode nos fazer criar raízes e não sairmos do lugar. Jesus diz: ‘Não tenham medo. Eu vos envio’. Vão ser pescadores de homens, a missão.
E assim como o povo que rodeava Jesus esperava dele uma palavra de vida, e sentiam que Ele tinha essa palavra, hoje também o mundo espera de nós cristãos uma palavra de vida. É interessante que lá em Nazaré pedem milagres para Jesus. Mas aqui em Cafarnaum pedem a palavra. A grande multidão se via porque queriam ouvir a sua palavra e pregação. Hoje também o mundo espera de nós, cristãos católicos, uma palavra diferente de tudo que está aí. Espera que levemos a palavra de Jesus. Em atenção à sua palavra, devemos nos lançar em missão como o nosso Sínodo Diocesano nos pede: Acolhida e Missão.
Mas acolhida é o primeiro passo da missão. Nós não temos quem enviar, se antes não temos acolhida na comunidade e pessoas iniciadas na fé possam extravasar a alegria de crer no Evangelho. A primeira leitura. ‘A quem enviarei?’, pergunta o Senhor. ‘Eis-me aqui’, diz o profeta, com temor, mas purificado por Deus. Deus purifica, capacita aqueles que envia em missão e que acolhem a missão que lhes é dada pela Igreja através da fé, com amor e a fé que vem de Deus. Deus não vai telefonar, mandar e-mail para ninguém. Não vai mandar carta escrita. Ele vai usar de mediações, assim como foi na Sagrada Escritura, o anjo fala a Maria, a José, Simeão, Ana… Todas essas pessoas em nome de Deus transmitem uma mensagem. Assim também para nós, Deus está falando continuamente. E é preciso ouvir a sua voz. Jesus chama esses pescadores e aí está o mistério da vocação, um mistério. Porque chama esses pescadores?
Existia tantos doutores da lei, pessoas instruídas, importantes, mas se Jesus os chamasse, eles iriam atribuir a si mesmos o êxito da missão. Por isso Jesus chama pessoas que se realmente fizessem alguma coisa boa, só poderia ser por Deus, como nós dizemos. Por isso, Pedro se reconhece indigno, pecador. E a partir daí, desta humildade, deste húmus, deste chão, que Deus levanta o edifício, a catedral da fé para glorificá-lo. Escolhe o que é pobre, simples, para mostrar o seu poder. É a teologia da eleição dos pobres, dos marginalizados, dos fracos, dos pecadores, e nós nunca cansaremos de admirar. E na segunda leitura nos mostra o que devemos anunciar, o mistério pascal. Cristo morreu, mas ressuscitou. A morte não é a última palavra, as circunstâncias da vida que nos abatem, nos torna tristes, momentos difíceis, não podemos ficar parados ali na morte. Mas a vida tem a última palavra. Paulo diz que é um mistério o que anunciamos. Este mundo maravilhoso na tecnologia, mas triste na sua humanidade, com toda essa rede de violência, descaso com a vida humana, dificuldades nos relacionamentos humanos, que cada vez vai ficando pior, as pessoas perdendo a capacidade de se relacionar em paz com as outras. Tudo isso não nos deve assustar, porque não é isso que terá a última palavra. Mas é a vida, a ressurreição que nós anunciamos.
Queridos irmãos e irmãs, a palavra de Deus nos mostra que o chamado do Senhor tem uma dinâmica, a dinâmica da pobreza. Deixe tudo e venha me seguir. E eles deixaram tudo e seguiram Jesus. Ninguém segue a Jesus sem deixar algo. Algo que não precisa necessariamente ser fortuna que nós não temos, mas nossos apegos interiores, nossos modos de ver, nossos apegos a pessoas, coisas materiais, locais, etc. Mas é preciso eleger Jesus, a sua palavra, o Reino de Deus, como o principal. Aí entra a missão do padre, a missão do pároco. Como tenho feito nestas posses, cada posse abordo um item da vida do pároco.
Hoje quero falar um minutinho no final desta reflexão sobre a caridade pastoral, que é o carisma do padre, do pároco, do padre secular, assim como foram os apóstolos que deixaram tudo para seguir Jesus. O amor e serviço do pároco é vivido através da caridade pastoral. O documento de Aparecida nos fala que o presbítero é a imagem do bom pastor. É chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo ao seu povo, servidor de todos, particularmente dos que sofrem.O Papa Francisco usa aquela expressão que se tornou famosa. ‘Ter cheiro de ovelhas’. O sacerdote, essencialmente é intermediário de Deus e seu povo. Mas o sacerdote não é somente para os sacramentos, para celebrar missas, batizados, casamentos. Na função de pastor, o sacerdote se dedica à cura de almas, ao pastoreio em que é pároco e aos padres, em especial os diocesanos, existe o chamado a ser pastor por excelência, exercendo essa caridade pastoral, essa caridade que não se cansa. E se cansa, ama o cansaço.
Qual é o carisma do padre diocesano? É esse. É a caridade pastoral pela qual ele se configura a Jesus Cristo, o bom pastor que dá a vida pelo rebanho, aquele que veio e está no meio de nós como quem serve. Esse carisma aparece com toda sua força quando o padre exerce o ministério de pároco de uma paróquia. A vida do presbítero que vive a caridade pastoral é o contínuo sair de si. Um contínuo não se pertencer. Como foi a vida de Jesus. É quase impossível exercer a caridade pastoral sem uma atitude de desapego de si. Por isso Jesus exige que os apóstolos deixem as redes e os sigam, por amor a Cristo. Porque se não for por amor a Cristo é um sacrifício intolerável. Nós podemos carregar a cruz no ombro e seguir em frente ou arrastá-la. Porque é muito triste e faz muito estrago. A caridade pastoral é um amor primário. O padre deve estar subordinado a essa caridade, a esse amor e a nenhum outro amor, ou amizade, nem sexual, nem familiar, nem nada, é o amor de Cristo.
A caridade pastoral se prova na obediência a palavra de Deus. E em especial, quando se defronta com a miséria do próximo ou quando somos desinstalados. Aí a caridade aparece. Na sua exigência de um testemunho que faz com que nos assemelhemos a esses apóstolos. Deixaram as redes, o barco, o seu mundo e foram fazer algo totalmente desconhecido. Serem pescadores de homens. Mas Jesus dá-lhes uma grande alegria. A alegria que brota da disponibilidade, da gratuidade, é o prêmio daqueles que se colocam nas mãos de Deus para fazer a sua vontade e exercer esse ministério da caridade pastoral.
O amor a Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos. Mas o amor ao próximo ocupa o primeiro lugar, na ordem da execução de Santo Agostinho. Enfim, a caridade pastoral orienta o padre a lidar com bondade, generosidade, paciência. A acolhida e missão são características da comunidade. E do pároco que ama. Que amam Jesus.
Então, hoje ao ser colocado à frente desta paróquia, comunidade paroquial tão querida, conhecida na diocese pelo seu dinamismo, essa comunidade dedicada ao Senhor Bom Jesus, aqui chega um bom padre, o padre Beto. Que tem a missão de ser esse bom pastor, como ele tem sido. Esse Bom Jesus. Padre Beto vai ser o Bom Jesus para todos que aqui chegaram, acolhendo e abençoando.
Que todos possam unidos a ele, como rebanho cheio de fé, de esperança e também vocacionado a essa caridade, continuar vivendo aqui esse testemunho do qual o mundo precisa. Uma comunidade que realmente não perde tempo em coisas menores, mas que procura evangelizar, viver a fé, acolher, ser missionário é uma grande luz, é a luz pascal de Cristo no local. Luz que ninguém pode apagar. Que hoje, com o início do ministério do padre Beto, essa luz possa brilhar com mais intensidade, pela experiência dele, pelo amor com quem ele vem até vocês e com esse amor estou vendo, vocês estão o recebendo.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!