Hoje não é muito comum falar da vida eterna e dos acontecimentos que na Teologia são chamados de “escatológicos”, ou seja, os últimos acontecimentos. No entanto, todas às vezes que rezamos o “Credo” terminamos dizendo: “Creio na vida eterna. Amém”.
Neste mês de novembro que preanuncia o fim do ano civil e o final do ano litúrgico, nós celebramos e rezamos pelos fiéis defuntos e pedimos a intercessão de todos os santos.
Ao comemorar os fiéis que morreram lembramo-nos da nossa “irmã” morte, como a chamava São Francisco de Assis. Com saudade e tristeza trazemos à lembrança tantas pessoas que estiveram perto de nós, fizeram-nos bem e já partiram para a casa do Pai.
Encontramos então conforto nas palavras de Jesus: “Esta é a vontade do meu Pai: que não perca nenhum daqueles que Ele me deu”. Jesus se tornou nosso irmão ao se encarnar. Ele é o irmão que entra na morte para acompanhar-nos além da morte e abrir-nos as portas da vida eterna e da esperança aqui na terra.
O dia de todos os santos é em seguida a festa da família, celebrada dia primeiro de novembro. Celebramos os irmãos e irmãs mais verdadeiros: os santos que estão sempre perto de nós e nos querem bem, nos ajudam iluminando o caminho que nos leva à verdadeira felicidade: à vida eterna.
A tradição cristã indica com esta expressão “vida eterna” a realidade de paz, plenitude e alegria de quem terminou a vida terrena e foi acolhido na comunhão com Deus, passando pela porta da morte. O termo vida quer dizer os bens que resultam de estar unido a Deus e o adjetivo eterna indica que se trata de um processo irreversível.
Os santos seguiram Jesus e viveram o Evangelho das Bem-aventuranças. Uma vez que a união com Deus se dá somente através de Jesus Cristo, a vida eterna consiste em estar com Cristo para sempre e partilhar com ele a beleza da ressurreição que é união plena com Deus, com os irmãos e com o Cosmos.
Estando em Deus os santos são envolvidos com Deus na vicissitudes da vida eterna, e por isso tomam parte no que sucede na vida deste mundo, no qual Deus está presente. Os santos nos acompanham e apoiam na nossa travessia terrena rumo à eternidade feliz.
Hoje, não é comum falar da vida eterna. O materialismo e o consumismo são tão grandes que muitos, inconscientemente, pensam que a vida se resolve todinha nesta terra. Outros estão ricos e sobrecarregados de bens terrenos que prefeririam ficar na terra para sempre, não fazem ideia dos bens eternos superiores aos terrenos.
Muitos cristãos estão empenhados em um ativismo tão grande para trabalhar pelo Reino de Deus que se esquecem de pensar na vida eterna, que é a meta deste Reino, o qual durará para sempre na eternidade. No entanto, Jesus nos recorda que não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que Deus profere, e quem crer nesta Palavra terá a vida eterna.
O Reino de Deus é absoluto e nossa vida deve ser consagrada a implorar e trabalhar para que ele venha, mas este Reino tem causa e motivação muito claras: não se esgota na felicidade da vida terrena, porém, se consuma na felicidade da vida eterna.
Rezemos com esperança pelos nossos irmãos falecidos, alegremo-nos e exultemos com os santos e santas de Deus. Aspiremos a santidade porque ser santo é começar desde agora pela fé, aqui na terra, a viver a vida eterna que não tem fim, e que é a vida no amor de Cristo que nos une aqui e para sempre.
(ARTIGO DE DOM PEDRO PARA O JORNAL A BOA NOTÍCIA, NOVEMBRO/18)