O ano do laicato é um tempo para se alegrar e exultar (cf. Mt 5,12). A alegria nasce do coração do crente que assume o compromisso batismal, pois mergulhados no amor da Trindade os batizados são chamados a vivenciar o múnus sacerdotal, profético e real de Cristo (cf. CDC, n. 204). O exercício da missão laical, no esforço de levar uma vida santa, é condição de exultação.
Alegria e exultação são marcas significativas da vida pastoral que não é uma mera escolha de fazer ou não fazer parte, mas um imperativo de Jesus Cristo à santidade. Assim, lembra o Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, o Senhor “quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (Gaudete et Exsultate, n. 1).
A vida pastoral não pode ser medíocre, superficial e indecisa. Forte isso, não acha? O que seria uma vida pastoral tomada pela mediocridade, pela superficialidade e pela indecisão? Esses são questionamentos que brotam do coração dos que buscam o protagonismo e a santidade na vivência do laicato, pois o exercício da reflexão e da interiorização, parafraseando Santo Agostinho, conduz a Deus.
Somente quando se reconhece as falhas, os pecados e as situações contrárias ao Evangelho que é possível avaliar a vida pastoral.
Uma vida pastoral medíocre não se permite à crítica, à formação constante, à oração diária, à abertura aos desafios do mundo atual. Uma vida pastoral superficial não se sustenta, pois não tem raízes profundas, não avançou para águas mais profundas, facilmente é levada por ventos relativistas, é como aquele insensato que construiu sua casa sobre a areia, vindo as chuvas, as enxurradas e os ventos a casa foi destruída e tudo virou ruina (cf. Mt 7, 21-27). Uma vida pastoral tomada pela indecisão carece de fé, assim lembra o Apocalipse: “Oxalá fosses frio ou quente!” (Cf. Ap 3, 14-22).
A vida pastoral não pode se caracterizar como uma mera ação, mas como um sinal visível do amor de Deus ao mundo que faz da vida pastoral construção do Reino de Deus, sendo essa a categoria central do projeto pastoral de Jesus de Nazaré. O Reino de Deus é decisivo e impulsiona a vida pastoral a sair da mediocridade, da superficialidade e da indecisão. Quanto mais se descobre quem é Jesus, melhor se entende a missão do leigo e da vida pastoral como serviço e caminho de santidade mantendo laços de amor e comunhão com todos, sobretudo com o que mais sofrem a negação à vida. Uma autêntica vida pastoral é sempre “hospital de campanha”.
“Dado que não se pode conceber Cristo sem o Reino que Ele veio trazer, também a tua missão é inseparável da construção do Reino: “procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6, 33). A tua identificação com Cristo e os seus desígnios requer o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de amor, justiça e paz para todos. O próprio Cristo quer vivê-lo contigo em todos os esforços ou renúncias que isso implique e também nas alegrias e na fecundidade que te proporcione. Por isso, não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso”. (Gaudete et Exsultate, n. 25)
Escrito por Jerry Adriano Villanova Chacon, filósofo e educador, membro da Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Santo André.