Via de regra, todos anseiam pela felicidade. Desejam se alegrar com as conquistas da vida e celebrar cada passo que se dá. Felicidade também pode ser vivida, sobretudo em momentos dolorosos, quando se vive uma vida reconciliada com as próprias escolhas, extraindo o verdadeiro sentido de cada acontecimento. Para nós cristãos, isso não poderia ser diferente.
Sobre o tema, o Catecismo da Igreja Católica ensina que Deus criou o homem como um “ser religioso” (Cf. CIC, 28), porque é – naturalmente – inclinado a buscar em Deus a sua realização. Deste modo, compreende-se que de fato é apenas na sincera busca por viver esse relacionamento com o Senhor que encontramos a plena felicidade.
“Deus nunca deixa de chamar todo o homem a que O procure, para que encontre a vida e a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço da sua inteligência, a retidão da sua vontade, um coração reto, e também o testemunho de outros que o ensinam a procurar Deus.” (CIC, 27)
O cumprimento da vontade de Deus a nosso respeito nos dará a segurança de que seremos felizes, pois Deus é a felicidade! O mais importante, em todo caso, é saber que a felicidade não exime ninguém de viver os desafios e sofrimentos da condição humana, ao contrário: em Deus somos capazes de extrair sentido e beleza de todas as situações, pois somente Ele é capaz de retirar o bem de um mal.
Vontade de Deus e eternidade
A vontade de Deus é um caminho seguro rumo à eternidade. Na história da Igreja encontramos vários santos que abraçaram o que Deus lhes pediu e viveram intensamente o chamado que Ele lhes fez. Um belo exemplo é a vida de São Paulo, que de perseguidor dos cristãos – alcançado pela misericórdia de Deus -, passou a ser discípulo e missionário do Senhor. Em sua missão passou por grandes sofrimentos como perseguições, prisões, naufrágios e açoites, mas tais sofrimentos não foram capazes de desanimá-lo e afastá-lo da vontade de Deus (Cf. 2Cor 11, 25). Ele mesmo diz que “não importa o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente” (Cf. Fil 3,16).
Quem também caminhou decididamente rumo à vontade de Deus foi o apóstolo João. Ele, mais conhecido como o discípulo amado, seguiu Jesus até a sua morte. Também ouviu do mestre as palavras de quem amou tanto o mundo que mesmo prestes a morrer não poupou cuidados para com a humanidade ao designar Maria, sua mãe, como também a mãe do discípulo e de toda a humanidade (Cf. Jo 19, 27).
Só um Deus apaixonado por seus filhos pode sustentá-los em momentos de tão grandes dores. É assim, sustentados pelo amor e pela misericórdia de Deus, que muitos homens e mulheres chegaram ao pleno cumprimento da vontade de Deus para eles. É por meio dessa misericórdia que, também nós, somos impelidos à coragem de lutar pelo plano do Senhor a nosso respeito e chegarmos à eternidade. E como vivê-la de forma que ela nos realize?
Servir ao próximo: realização pessoal
No serviço ao próximo nos realizamos. Por meio dele a vontade de Deus se torna visível e palpável. É assim que acontece nos compromissos matrimoniais, por exemplo, quando professamos publicamente que estaremos unidos ao cônjuge na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, em todos os dias de nossa vida. Isso quer dizer que faremos de tudo para que o outro seja feliz. O mesmo acontece aos sacerdotes que se comprometem em dar a vida pelo rebanho e aos celibatários, que renunciam compromissos de exclusividade para, em favor do Reino, amar os que são amados por Deus.
O serviço ao próximo é uma das condições para se chegar a felicidade. “Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes” (Jo 13, 17), disse Jesus aos seus discípulos após ensiná-los, durante a última ceia, que é preciso lavar os pés uns dos outros para chegar ao Reino dos Céus. Na verdade, com esse gesto, Cristo nos ensina que a via para realização pessoal, necessariamente, passa pelo serviço aos próximo e a felicidade só é completa se estiver regada de atos de amor e doação aos irmãos.
A vontade de Deus é a nossa santificação
“[…]porque nos fizeste para Ti e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Ti.” (Santo Agostinho)
Assim como Santo Agostinho, não devemos descansar enquanto não estivermos em plena comunhão com Deus. Para chegarmos a essa graça devemos crescer e amadurecer na fé. Precisamos compreender que a felicidade à qual almejamos não se encontra em ter uma vida sem desafios, sem provas e sem sofrimentos, mas na realização da vontade de Deus para nós, que é uma vida verdadeira e cheia de sentido.
“A vontade de Deus é que vocês sejam santificados” (1Tss 4, 3), diz-nos São Paulo. É essa vontade de Deus que gera em nós a graça da santificação. Tem realização maior que estar na vontade de Deus? Tem felicidade melhor que viver o que Deus quer de nós?
O caminho da santificação requer de nós um crescimento, uma maturidade de fé. Essa maturidade traduz-se em um vida reconciliada com Deus, com os irmãos e consigo.
Como homens e mulheres maduros, assumamos e vivamos o que Deus quer de nós!