A imaginação popular nutre muitos mitos sobre a vida de um sacerdote diocesano. O padre vive uma vida infeliz e solitária? Usa calça jeans? Pode ter amigos? Essas são algumas dúvidas que passam na cabeça de muitas pessoas, mas nem todas têm a oportunidade de perguntar para o sacerdote diocesano como, de fato, ele vive sua vida.
Vejamos aqui alguns mitos… Desmistificados, claro!
1.O sacerdote é solitário
Vai depender de como decidir encarar seus limites e necessidades e as exigências da própria missão. Uma coisa é fato: o sacerdócio católico, dependendo de suas escolhas, proporciona a solidão de um modo todo especial. Não se trata de um obstáculo intransponível e sim uma oportunidade de crescimento interior: amadurecimento. Por outro lado, os padres têm amigos, sim! Tanto é possível como desejável que um sacerdote construa laços de amizades saudáveis ao longo da vida. E como é próprio da vida de alguém que fez voto de castidade, a amizade será sempre um sinal de liberdade e seta para a vida de Cristo.
2.O celibato é impossível de ser vivido
Ninguém nasce padre e sim se faz padre ao longo de todo um processo de formação humana e cristã que, na verdade, nunca acaba. Concretamente, um padre é – para todos os efeitos – um ser humano como qualquer outro, de modo que tudo o que é genuinamente natural como, no caso, a tendência para o uso da sexualidade. Alguns dias são mais fáceis que outros, mas com a graça de Deus – sem a qual nada de minimamente bom e belo se faz – os padres seguem em frente, com determinação e coragem, sem perder em nada, e até mesmo experimentando mais ainda: alegria de viver e paz de espírito que todos desejamos e que só Jesus Cristo pode dar. O mais importante é compreender que o celibato no sacerdócio é um voto que se faz em vista de algo maior, é pelo Reino de Deus e pela salvação do rebanho de Cristo.
3.O padre recebe salário
Não existe algo como um piso salarial para padre como, tampouco, plano de carreira. A comunidade, no entanto, tem a obrigação moral de garantir ao padre tudo o que for necessário para o pleno exercício do seu ministério, como moradia, alimentação, transporte, tratamento de saúde. As dioceses comumente estipulam uma ajuda de custo que dê suporte e dignidade as necessidades do clérigo. Apesar de que, dependendo da situação socioeconômica da comunidade, o padre deve estar sempre disposto abraçar, com sobriedade e justiça, o que o Senhor providenciar. O mais importante é que o povo seja assistido e receba a graça dos sacramentos.
4.O padre não pode andar de calça jeans e tênis
Sobretudo no exercício de suas funções ministeriais, o padre, como determina o próprio direito canônico, deve usar um hábito eclesiástico, em outras palavras, uma roupa especial, espécie de farda ou uniforme.
Cân. 284 Os clérigos usem hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pela Conferência dos Bispos e com os legítimos costumes locais.
Ouve-se dizer que o hábito não faz o monge, mas continua sendo igualmente verdade que as vestes sagradas passam uma mensagem. Por isso que, em todo o mundo, a tendência é de sempre definir uma roupa especial para quem quer que esteja no exercício de uma função, tanto quanto mais importante for a instituição que representa. Mas, nada impede que quando estiver mais à vontade, por exemplo, em sua casa, de recesso ou de férias, entre familiares e amigos ou numa rotina mais administrativa, o padre vista outra roupa, inclusive calça jeans, o que for mais conveniente, mas sempre com modéstia.
5.O sacerdote diocesano é proibido de frequentar festas
Novamente a questão aqui é o bom senso. Ninguém espera, por motivos óbvios, ver um padre numa boate, festa heavy ou pulando carnaval. Mas qual o problema de ir numa festa de aniversário ou de casamento? O relevante quanto a falta de dignidade de uma festa, é no que se refere a ir contra a doutrina da Igreja. O padre não só é livre para frequentar festas, como deve ser impulsionado pelo desejo de evangelizar em todas as ocasiões.
6.O padre não pode errar
Poder até pode, já que – como diz o ditado – errar é humano. Mas uma coisa é errar por ignorância ou falta de experiência. Em contraponto, errar de caso pensado, consciente do mal que se fará, desejando-o mesmo assim, entra na esfera do mal, do pecado. Erros administrativos, relacionais, ministeriais são passíveis de crítica e avaliação das autoridades competentes, a partir dos olhos da comunidade. Mas para o sacerdote também vale a misericórdia. Como foi dito, sua humanidade é falha e está em processo de amadurecimento.
7.O padre diocesano pode fazer o que quiser da sua vida
Existe uma certa autonomia no cotidiano do sacerdote que vive a dinâmica da administração de uma paróquia, de modo que, inclusive, pode dedicar-se aos estudos, por exemplo. Porém não se pode esquecer que o sacerdote é servo da Igreja, e faz compromisso de obediência, abertura ao envio missionário e dedicação a vida sacramental dos fiéis e a espiritualidade. A fidelidade a esses compromissos tornam sua vida envolvida em uma série de condutas e uma agenda com prioridades, que fazem parte da sua vocação, sendo assim não se torna um peso, mas uma escolha livre e realizadora.
8.Ninguém pode discordar do padre
Desde que se esteja com a razão, qualquer um pode discordar do padre, mas sem perder o respeito e a caridade. Sem o amor e a cordialidade, o diálogo fica inviável. Vale considerar que o sacerdote necessita da comunidade para vivência cristã. Portanto, a escuta da crítica dos fiéis vai passar por um exercício de humildade e gratidão, pois é consciente de que no Reino de Deus não se caminha sozinho.
9.O sacerdote diocesano não é feliz
O padre, coerente com aquilo que acredita, ainda que por conta disso passe por dificuldades e provações é sim feliz. A felicidade é um dos anseios do coração humano e é parte de uma vida de santidade. Se há sofrimento, doença, solidão, perdas, tudo isso precisa ser colocado sob a ótica do amor, do chamado e da oferta de si por amor a Deus e por aqueles que Deus ama. Felicidade não é sinônimo de vida linear e sem interpéries, mas uma vida reconciliada, disponível e unida a Cristo.
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