Itaici 25/9/2015
Dom Pedro Carlos CipolliniLeituras: Ageu 1,15-2,9 / Salmo 42/43 / Lucas 9,18-22
O que se pode dizer após tanta luz? Após o banquete que tivemos com Dom Leonardo que nos guiou em suas reflexões neste Retiro? Vamos raspar a panela!
O Evangelho coloca em questão a identidade de Cristo: Ele pergunta, o que dizem de mim? Está colocada aí a questão da “identidade” de Cristo: quem é Ele? Hoje, mais do que nunca, a questão da identidade é importante, em um mundo líquido no qual tudo o que é sólido se desfaz, desmancha no ar (Milan Kundera).
Jesus é o Filho de Deus, e quem é Deus? Deus é amor (1Jo 4,16). A pátria de Jesus é a Trindade, pátria do Encontro, da Comunhão de Amor. Encontramo-nos para entrarmos em comunhão, e a comunhão vive do amor.
Jesus é a expressão máxima deste Deus amor misericordioso que se comunica criando, que cria se comunicando, a fim de nos encontrar neste local sagrado que é seu Filho Jesus Cristo morto e ressuscitado: Amor que dá a vida. Jesus ama o Pai e quer continuar amando-o no tempo que se chama hoje… Ele quer continuar amando o Pai através de nós sacerdotes.
A identidade de Cristo foi comunicada a nós, pela ordenação sacerdotal fomos ontologicamente configurados a Cristo para continuarmos sua missão de amar o Pai! (cf. Jo 10,15). O sacerdote é de certa forma Cristo continuado em uma vida de amor. Está é a identidade do sacerdote que brota da identidade de Cristo. “Jesus diz que seu Reino é Reino de amor, não é lugar de domínio ou competição. O requisito solene e solitário para o ingresso no Reino de Deus é a escolha do amor como um princípio de vida” (J. Powell)
O maior serviço que um sacerdote presta a uma comunidade é o de ser memória viva de Jesus na sua comunidade, na sua Igreja. Somos encorajados a preservar em meio ao nosso povo a memória viva de Jesus, através da pregação da Palavra e da presidência da Eucaristia, da vivência da fraternidade e comunhão em nossas Paróquias.
O sacerdote que ama sempre poderá dar algo por Cristo, pela Igreja, pelo Reino. Recordo-me de S. Gregório Nazianzeno que ao renunciar a sede episcopal de Constantinopla, na qual era Patriarca, ao ser interpelado pelo imperador que lhe perguntou o que daria à Igreja após sua renúncia? Ele respondeu; darei as minhas lágrimas… O sacerdote que na trilha da identidade de Cristo, entrou no dinamismo do amor, este sacerdote não é mero funcionário que dá apenas o suor, mas é missionário que dá o sangue!
Identidade de Cristo: Ser Filho, ser amor ao Pai e por causa deste amor ser servo de todos entregando a vida. Identidade do Sacerdote: Ser imagem de Cristo e a ele configurado na missão de servo: servo de Cristo, servo da Palavra, servo dos irmãos! E aí a Cruz surge como local privilegiado de inserirmos no memorial da vida, paixão e morte, por AMOR!
E a tônica da vivência desta identidade amor é a gratidão que gera gratuidade. Ser grato porque fui escolhido, consagrado, e configurado a Cristo; por isso vivo na gratuidade da fonte que jorra, gerando vida sem nem mesmo saber disso e sem nada esperar a não ser ser ela mesmo.
O que dizem de mim, pergunta Jesus, o que dizem de nós sacerdotes em nossas comunidades? O que dizem de ti? Dizem que você é memória viva de Jesus. És realizado por isso?
Jesus se revela como o Filho de Deus e anuncia sua paixão e morte na cruz. Alí, na cruz foi o local onde a identidade de Jesus se revela porque na cruz ele dá a prova total de seu amor. É também na cruz que nosso amor, nosso seguimento de Jesus se realiza. É na cruz que adquirimos também a mesma identidade de Cristo: sermos, nele e por ele: Filhos de Deus!
Que este retiro nos ajude em nossa caminhada espiritual como Presbitério, nos ajude a perceber a dimensão presbiteral de corresponsabilidade de nosso trabalho em favor do Reino. Amém